Dificilmente o governo de Muamar Kadafi vai desistir de derrotar as forças oposicionistas neste momento e cumprir o cessar-fogo prometido pelo dirigente da Líbia, mesmo com o aumento da pressão internacional sobre o regime, opina a professora Roxane Farmanfarmaian, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos.

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"Kadafi não é conhecido por fazer o que promete", diz, em entrevista por telefone, a professora Roxane Farmanfarmaian, da Universidade de Utah, nos Estados Unidos. "É difícil saber se Kadafi irá cumprir o cessar-fogo, mas não posso imaginar que ele vá parar agora". Na quinta-feira, o Conselho de Segurança (CS) da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou uma intervenção militar na Líbia para proteger os civis, autorizando ataques aéreos e a criação de uma zona de exclusão aérea no país do Norte da África.

Ao anunciar o cessar-fogo, na sexta-feira, o governo líbio afirmou que, como membro da ONU, obedecia às resoluções do Conselho de Segurança, apesar de discordar da medida que, para o governo de Trípoli, prejudica bastante a Líbia e é uma violação à soberania nacional. Segundo Roxane, "é sempre muito difícil prever" o cronograma para uma ação militar do tipo.

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O levante na Líbia começou em 15 de fevereiro, inspirado pelos protestos de Tunísia e Egito, que culminaram com a deposição dos presidentes desses países. Na Líbia, porém, Kadafi vem resistindo aos protestos e reagindo com violência. Nos últimos dias, várias cidades sob controle dos rebeldes foram retomadas e o governo ameaça lançar uma ofensiva contra Benghazi, principal cidade controlada pelos oposicionistas.

Apesar da pressão internacional pela saída do coronel, a especialista acredita que Kadafi não deve deixar o comando. Além disso, Roxane vê para uma guerra de informação no confronto. "Todo o modo como ele está apresentando a situação não é como um movimento popular, mas da Al-Qaeda. A própria propaganda dele não permitiria que ele deixasse Benghazi fora de seu controle".

Horas depois do cessar-fogo já eram divulgadas informações sobre novos ataques das forças do governo contra os rebeldes. Como Kadafi não parece disposto a ceder, Roxane acredita que o resultado será "um conflito prolongado, de qualquer forma".

Símbolo

Outra especialista entrevistada, Ellen Lust, professora de Ciência Política da Universidade Yale, também nos EUA, lembra do movimento ocorrido na Tunísia, quando protestos culminaram na deposição do presidente Zine El Abidine Ben Ali, em janeiro.

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Segundo ela, a notícia mobilizou os egípcios, o que resultou na queda de Hosni Mubarak da presidência do Egito, em fevereiro. "Temo que o que estamos vendo na Líbia faça com que as pessoas recuem e digam 'Vejam quão brutal isso pode se tornar'", diz.

"Na Líbia há uma crise humanitária", aponta Ellen. "Mas isso também manda uma mensagem para a região de que muita mudança pode ser perigosa, ou que os regimes podem responder brutalmente", conclui a professora.