Depois de muitas ameaças, o vice-premier israelense e líder do Kadima, Shaul Mofaz, anunciou nesta terça-feira (17) que seu partido vai abandonar o governo de Benjamin Netanyahu. No cargo há apenas 70 dias, Mofaz sai deixa o gabinete por divergências sobre a obrigatoriedade do serviço militar para judeus ultraortodoxos.
"É com profundo pesar que digo que não há outra opção a não ser abandonar o governo", disse Mofaz em uma reunião de emergência com o seu partido.
Uma das promessas eleitorais do Kadima era encontrar uma lei que substitua a atual, que exime os ultraortodoxos de prestar serviço militar obrigatório, como os outros israelenses. O prazo para aprovar uma nova lei é dia 1º de agosto e, até agora, não houve consenso entre os dois partidos, o Kadima e o conservador Likud, do premier Netanyahu.
A aliança entre os dois partidos com mais assentos no Parlamento foi selada em maio passado e agora pode significar um revés para o Likud, que planejava uma eleição tranquila no próximo mês de setembro. Ainda assim, o partido de Netanyahu consegue manter sua maioria, mas o fim da coalizão pode ameaçar a estabilidade do Executivo.
O principal desacordo girou em torno da idade de alistamento dos judeus ultraortodoxos, que contam com o apoio do Likud. Como o Supremo Tribunal declarou recentemente inconstitucional a lei que eximia os ultraortodoxos do serviço militar, o governo precisou achar uma alternativa. Mofaz se disse disposto a atrasar a idade de alistamento dos chamados haredim para 22 anos, enquanto o resto dos israelenses são recrutados com 18.
"O primeiro-ministro não está disposto a abaixar além de 26 anos, e eu não aceito essa oferta", disse Mofaz.
Segundo o jornal "Haaretz", no entanto, Netanyahu teria proposto de última hora abaixar a idade de recrutamento dos ultraortodoxos para 23 anos. Mofaz, no entanto, considerou a proposta uma armadilha, já que sua aplicação - se analisada detalhadamente - seria parecida com a proposta anterior, de 26 anos.
O Kadima, partido de centro-direita fundado por Ariel Sharon, em 2005, teve uma drástica queda de popularidade logo antes de se juntar ao governo de Netanyahu. A quebra da aliança é justamente uma tentativa de impedir uma nova perda de eleitores.
"Não foi fácil entrar pro governo, paguei um preço político por isso, mas a questão (da composição do Exército) é fundamental e não tenho outra opção. Qualquer concessão afetaria a imagem do Kadima, explicou Mofaz a seus partidários.