Se Kamala Harris seguir com suas propostas que apoiou na primeira vez que concorreu à presidência, o orçamento federal estará em apuros ainda maiores do que já está.
Harris foi longe demais durante sua campanha fracassada para presidente em 2020, gastando US$ 40 milhões apesar de ter desistido antes da primeira votação primária ser realizada. Suas posições políticas demonstraram um nível semelhante de disciplina fiscal.
Por exemplo, ela foi coautora do projeto de lei de saúde socialista do senador Bernie Sanders, chamado em inglês de “Medicare for All” (Assistência Médica para todos, em tradução livre)que o instituto Urban, de tendência esquerdista, estimou que custaria US$ 34 trilhões ao longo de dez anos.
Como senadora, Harris também apresentou uma legislação em defesa de um crédito tributário reembolsável de até US$ 3.000 ao ano para famílias de baixa e média renda, com o valor exato sujeito a restrições de renda. Isso seria um acréscimo, e não um substituto, a todos os programas de assistência social e créditos tributários existentes para famílias. O think tank de pesquisa internacional Tax Foundation estimou que o novo crédito tributário custaria US$ 2,7 trilhões ao longo de uma década.
Ela queria que as pessoas recebessem US$ 2.000 por mês do governo federal durante todo o período de emergência da pandemia. Essa proposta teria custado US$ 21 trilhões em apenas três anos.
Mesmo sob os cenários mais otimistas para os democratas, as maiorias do Congresso provavelmente não sejam grandes o suficiente para apoiar uma reforma gigantesca do sistema de saúde que tiraria 180 milhões de pessoas de seus planos de seguro privado. O portal Axios afirmou na quarta-feira (24) que Harris planeja perseguir "partes da agenda doméstica de Joe Biden que nunca alcançaram a linha de chegada".
Em várias ocasiões do debate "Build Back Better" (proposta do governo Biden que buscava maior investimento público nacional em programas sociais, de infraestrutura e ambientais), o preço dessa agenda foi apontado como superior a US$ 6 trilhões. Harris quer pré-escola universal e mais gastos federais em cuidados com idosos e crianças. Ela disse que quer que todas as pessoas tenham licença familiar remunerada.
Biden prometeu não aumentar impostos de pessoas que ganham menos de US$ 400.000 por ano, o que representa 98% dos contribuintes. Harris não disse se manterá essa promessa.
Se o fizer, sua campanha está prometendo níveis europeus de programas de bem-estar social sem níveis europeus de tributação da classe média. Isso significa déficits enormes.
Harris já disse que apoia um aumento no imposto corporativo, de 21% para 35%, o que tornaria a taxa americana a mais alta entre as grandes potências do mundo. Individualmente, ela queria aumentar a taxa marginal máxima para 39,6% e tributar ganhos de capital, pelo menos para alguns contribuintes, na mesma taxa da renda ordinária.
Ela também apoiou impostos sobre transações financeiras e a expansão do imposto sobre herança. Esses aumentos de impostos não chegariam nem perto de aumentar a receita que seus planos exigem, mas fariam muito para desacelerar o crescimento econômico ao reduzir o investimento no país.
Sob a administração Biden-Harris - e não deixe a esquerda apagar essa marca que o governo democrata tem usado por anos - a dívida nacional está crescendo ainda mais rápido do que a já enorme lacuna entre receita e gastos que era esperada.
A agência federal Congressional Budget Office (CBO, na sigla em inglês), que fornece informações orçamentárias e econômicas ao Congresso americano, revisou sua estimativa de déficit de US$ 400 bilhões para o atual ano fiscal, passando a US$ 1,9 trilhão.
Os republicanos também têm sido fiscalmente irresponsáveis, tanto no governo quanto nas promessas de campanha. A lista de marcadores que está passando como plataforma do Partido Republicano este ano canoniza essa irresponsabilidade, prometendo “grandes cortes de impostos” em conjunto com nenhum corte na Previdência Social ou Medicare, os programas de direitos que estão impulsionando a dívida.
A promessa da plataforma de “controlar gastos desnecessários” não inclui detalhes sobre como isso realmente aconteceria.
No entanto, continua sendo o caso de que não há um pacote de redução de impostos que os republicanos poderiam propor que custaria US$ 21 trilhões em três anos, porque o governo federal arrecada apenas cerca de US$ 4,5 trilhões em receita anual.
É difícil conceber um que pudesse custar US$ 34 trilhões em dez anos. Deixar o status quo insolvente em vigor é ruim, mas adicionar dezenas de trilhões a ele com novos programas governamentais é ainda pior.
Seria conveniente que os republicanos tirassem vantagem da irresponsabilidade fiscal de Harris propondo uma agenda real de reforma de gastos que desse aos eleitores uma escolha clara entre déficits crescentes e decência básica.
Os gastos deficitários contínuos do governo federal, apesar do baixo desemprego e de uma economia em crescimento, contribuem para a inflação e criam pressão ascendente nas taxas de juros, afastando o investimento privado e tornando as hipotecas menos acessíveis.
Não estamos prendendo a respiração por uma plataforma fiscal republicana mais sóbria no momento. Mas em uma competição para quebrar o banco, Harris parece provável que assuma a liderança.
©2024 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.
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