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Análise

Kamala Harris na capa da Time: uma vice com mais poderes na Casa Branca?

Joe Biden e Kamala Harris foram eleitos a "Pessoa do Ano" pela Time em 2020 (Imagem: Reprodução/Time) (Foto: )

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Escolher o presidente eleito dos Estados Unidos como “Pessoa do Ano” é uma tradição na revista Time. O primeiro foi o democrata Franklin Roosevelt, em 1932, quando o reconhecimento era feito ao “Homem do Ano” – a nomenclatura mudou em 1999. Em 2016, Donald Trump levou o título. Portanto, não é de se estranhar que em 2020 o democrata Joe Biden, que assumirá a Casa Branca em janeiro de 2021, tenha sido agraciado. O que é novo, porém, é o fato de que, pela primeira vez, a publicação americana incluiu a vice-presidente eleita na nomeação.

A decisão da Time é resultado da crescente importância da diversidade na pauta política americana, especialmente para os eleitores democratas. Harris será a primeira mulher e a primeira negra a assumir a vice-presidência dos Estados Unidos, o que foi amplamente anunciado e comemorado pela imprensa ao redor do mundo, inclusive pela Time.

Harris foi essencial para a vitória de Biden em um ano em que os movimentos raciais ganharam força nos Estados Unidos. Mulheres negras formam um dos mais importantes eleitorados democratas, e ter uma vice que representa essa população foi a forma com que Biden encontrou de manter essas eleitoras motivadas a votar em um homem branco, idoso e que está na política há 50 anos.

"Biden tinha a visão, ajustou o tom e liderou a chapa, mas ele também reconheceu que não poderia oferecer por si mesmo o que um homem branco de 78 anos nunca poderia oferecer: uma mudança geracional, uma perspectiva nova e uma personificação da diversidade da América", afirma o editorial da Time ao anunciar a "Pessoa do Ano" de 2020.

Mas além desta primeira constatação, a foto da dupla democrata na capa da Time desta semana também serve como um reconhecimento da força política de Harris. No processo de transição presidencial, Biden faz questão de destacar que sua vice participa de todas as escolhas para a equipe.

“Não há uma única decisão que tomei sobre pessoal ou sobre como proceder que eu não tenha discutido com Kamala primeiro”, disse o democrata à emissora americana CNN. Na mesma entrevista, Harris contou que Biden disse a ela, ainda na época de campanha, que quer que ela seja “a primeira e a última [a ser ouvida]” antes das tomadas de decisões importantes.

Analistas políticos avaliam que há grandes chances de Harris assumir papéis importantes na administração, como coordenar a resposta da Casa Branca à pandemia. Há, inclusive, pressão de grupos de direitos civis para que a vice não fique em segundo plano durante o novo governo. “O antigo termo - ‘espere sua vez’- não se aplica mais. Não somos apenas qualificados; estamos prontos para afirmar nosso poder e nossa visão”, disse ao Los Angeles Times Aimee Allison, fundadora e presidente do She the People, grupo que promove as mulheres negras na política. “Ela carrega as esperanças políticas e os sonhos das mulheres de cor, que são o núcleo da base eleitoral democrata”.

Também há chances de que Harris seja um nome forte nas primárias presidenciais democratas em 2024 se Biden, que estará com quase 82 anos, decidir, de fato, não concorrer ao segundo mandato. Isso já vinha sendo especulado desde que ele anunciou que Kamala seria sua vice, em agosto. E a teoria ganha força devido aos nomes que Biden escolheu para seu gabinete até o momento. De acordo com uma análise feita pelos jornalistas Christopher Cadelago e Natasha Korecki, do Politico, o fato de Biden ter dado espaço a tecnocratas em vez de políticos democratas com ambições para 2024 já é uma vantagem para Harris.

Se Kamala Harris será uma vice-presidente poderosa ou se ela terá uma grande importância dentro do Partido Democrata daqui a quatro anos ainda está para ser visto. Mas neste primeiro momento a maré tem estado a favor dela.

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