Radovan permaneceu tenso durante sua primeira "visita" ao tribunal de crimes de guerra: algumas vezes enxugou a testa e soltou declarações em sérvio| Foto: ICTY / Reuters

O ex-líder sérvio Radovan Karadzic compareceu nesta quinta-feira (31), pela primeira vez, diante de um tribunal de crimes de guerra da ONU a fim de responder por acusações de genocídio. Na audiência, o réu disse que teme por sua vida.

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Karadzic, detido na semana passada depois de ficar 11 anos foragido, usava um terno escuro e, aparentemente mais magro, permaneceu sentado entre dois guardas. Algumas vezes, enxugou a testa e soltou declarações em sérvio.

O homem que liderou a República da Sérvia durante a Guerra da Bósnia (1992-95) é o mais conhecido suspeito de crimes de guerra dos Bálcãs a ser preso desde Slobodan Milosevic, presidente da Sérvia, que morreu na prisão em 2006, antes do término de seu julgamento.

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"O senhor se chama Radovan Karadzic, não é?", perguntou-lhe o juiz Alphons Orie. "Sim, me chamo", respondeu o réu, que no início do julgamento limitou-se a responder com poucas palavras. Mas com o passar do tempo, ele demonstrou-se mais animado e provocador.

O juiz observou que Karadzic estava sozinho. Sorrindo, o réu respondeu: "Eu tenho um conselheiro invisível, mas decidi representar-me sozinho."

Karadzic depara-se com duas acusações de genocídio, uma pelo cerco de 43 meses a Sarajevo e outra pelo massacre, em 1995, de 8.000 muçulmanos em Srebrenica, a pior atrocidade ocorrida na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.

Ele disse que sua prisão era ilegal: "Em Belgrado eu fui preso irregularmente. Fui sequestrado por três dias. Não tive direito a um telefonema nem mesmo a um SMS (mensagem de texto por telefone celular)."

Karadzic também atacou o ex-mediador da Organização das Nações Unidas (ONU) para a paz na Bósnia, Richard Holbrooke, afirmando: "Se Holbrooke quer minha morte e lamenta que não haja sentença de morte nesta corte, eu quero saber se seus braços são longos o bastante para me alcançarem aqui".

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Ao ser questionado sobre se desejava ouvir a denúncia, Karadzic respondeu: "Não tenho interesse em que alguém leia para mim a denúncia."

O acusado pediu para ver a nova denúncia preparada atualmente pela promotoria e requisitou tempo para avaliá-la antes de manifestar-se.

Karadzic compareceu diante da corte após ter passado sua primeira noite em uma cela do centro de detenção do tribunal de crimes de guerra, em Haia.

Sem barba

Depois de ter sido detido em Belgrado, o réu livrou-se da longa barba e dos cabelos compridos que ajudaram a mantê-lo escondido nos anos que se seguiram ao final da guerra. Ele fingia ser um praticante de medicina alternativa.

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Karadzic foi levado de avião para a Holanda na quarta-feira de manhã.

O comportamento do réu - uma figura extravagante quando era líder da Sérvia - oferecerá indícios a respeito de sua postura durante o processo e sobre se os juízes podem esperar dele a mesma atitude de desafio adotada por Milosevic, dentro daquela mesma sala.

Como o presidente sérvio, Karadzic sugeriu que deseja defender-se sozinho, uma manobra que acabaria por adiar o julgamento.

O procurador-geral do tribunal, Serge Brammertz, disse que seria capaz de conduzir o caso de forma adequada, em vista da experiência anterior com Milosevic.

"Claro que demorará vários meses antes de a promotoria e a defesa estarem prontas para começar. Esse será um julgamento complexo, mas estamos totalmente cientes da importância de que venha a ser eficiente", afirmou a repórteres.

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O advogado de Karadzic na Sérvia disse que seu cliente usaria o prazo de 30 dias de que dispõe para manifestar-se pela primeira vez a respeito das acusações. Pelas regras da corte, se o réu não quiser manifestar-se, então se registra uma declaração de "inocente" em nome dele.

A extradição do acusado para Haia representa um ponto-chave dos esforços feitos pela Sérvia para aproximar-se da União Européia (UE). A prisão dele foi vista como um sinal pró-Ocidente da parte do novo governo sérvio, empossado neste mês.

A França, que ocupa atualmente a Presidência rotativa da UE, disse em um comunicado que a prisão de Karadzic e a transferência dele "significam passos importantes no processo de reconciliação dos Bálcãs ocidentais e de reaproximação entre a Sérvia e a Europa".