Radovan Karadzic orquestrou o Massacre de Srebrenica e seu único arrependimento foi que "alguns muçulmanos escaparam", disse nesta segunda-feira (2) um promotor durante julgamento do ex-líder sérvio bósnio pelo que é considerada a maior atrocidade desde a Segunda Guerra Mundial.
Karadzic mais uma vez boicotou seu próprio julgamento no tribunal iugoslavo dos crimes de guerra, mas prometeu em carta aos jurados que vai comparecer a uma audiência processual amanhã
Na abertura de seu discurso ao júri, o promotor Alan Tieger classificou o massacre de aproximadamente 8 mil muçulmanos em julho de 1995 em Srebrenica como "um dos capítulos mais negros da humanidade" e colocou toda a culpa nas costas de Karadzic.
"O assassinato desses homens e a expulsão de mulheres, crianças e idosos não vieram de lugar nenhum", afirmou. "Esses crimes foram uma combinação da determinação do acusado de limpar o leste da Bósnia e assegurar o Estado Sérvio que ele previa".
Karadzic sofre duas acusações de genocídio e de nove outros crimes contra a humanidade e de guerra relacionadas às atrocidades ocorridas durante a guerra da Bósnia entre 1992 e 1995.
O ex-líder recusou-se a entrar com uma defesa, mas insistiu que é inocente. Se condenado, ele deve sofrer a pena máxima de prisão perpétua.
O boicote de Karadzic na semana passada frustrou dezenas de sobreviventes de guerra, muitos dos quais são testemunhas dos acontecimentos de Srebrenica, que viajaram centenas de quilômetros de ônibus para vê-lo enfrentar a justiça depois de 13 anos.
Karadzic escreveu ao júri que deve ir à audiência de amanhã a fim de ajudá-lo a encontrar "uma solução que vai levar não a um julgamento meramente formal, mas justo". Ele alega não ter tido tempo suficiente para preparar sua defesa, embora tenha sido indiciado primeiro em 1995 e preso 14 meses depois em um ônibus de Belgrado, disfarçado de um curandeiro da Nova Era.
Desde então, trabalha em sua defesa na cela do centro de detenção do tribunal. Karadzic insiste que precisa de mais oito meses para que esteja preparado para o julgamento, para o qual dispensou um advogado.
Os membros do júri consideram a possibilidade de impor um advogado de defesa para Karadzic. Tal medida pode adiar ainda mais o julgamento, já que um novo advogado precisaria se familiarizar com o caso.
Na semana passada, o promotor Tieger acusou Karadzic de ser o "comandante supremo" de uma campanha de limpeza étnica contra muçulmanos e croatas no território sérvio na Bósnia. Ontem, Tieger disse ainda que o cerco de Sarajevo era parte do plano e foi liderado por Karadzic.
"Por 44 meses, Karadzic dirigiu uma campanha de terror contra uma população civil que foi visada por viver na capital de um país multiétnico que ele desejava separar etnicamente", afirmou Tieger. As informações são da Associated Press.