Cabul - Sob intensa pressão internacional, o presidente afegão, Hamid Karzai, admitiu ontem que houve fraude nas eleições de 20 de agosto e aceitou disputar o segundo turno, marcado para o dia 7.
A decisão do líder afegão foi tomada depois de uma investigação da Comissão de Queixas Eleitorais, patrocinada pela Organização das Nações Unidas (ONU), ter determinado que quase um terço dos votos de Karzai deveria ser anulados por causa de fraude.
Após essa recontagem de votos, o presidente ficou com 48% dos votos, ou seja, menos do que os 50% necessários para se reeleger no primeiro turno. Ele enfrentará o ex-chanceler Abdullah Abdullah.
"Faço um apelo à nação para ver esse momento como uma oportunidade de levar o país adiante e participar dessa nova rodada de votação", disse Karzai, ao deixar um encontro com os diretores da Comissão Eleitoral do Afeganistão, organização controlada por aliados do presidente. A comissão confirmou a conclusão do órgão da ONU de que Karzai não teve a votação necessária para evitar o segundo turno.
Ao lado do senador americano John Kerry e do enviado da ONU Kai Eide, Karzai agradeceu pela ajuda da comunidade internacional e disse que gostaria de poder continuar contando com o apoio externo para a segunda rodada de votação.
No entanto, ele não expressou arrependimento pela fraude em massa, que fez com que ele perdesse cerca de 1 milhão de seus 3 milhões de votos.
Ameaça
Agora que as investigações sobre as fraudes foram finalizadas, os responsáveis pela eleição têm de organizar uma nova votação, em meio à crescente ameaça do Taleban e ao início do severo inverno afegão.
"Com certeza o Taleban usará toda a sua força para atrapalhar a eleição", observou o analista afegão Waheed Mozhdah. "O segundo turno será difícil se o objetivo for uma eleição mais transparente do que a do primeiro turno."
Ao aceitar um segundo turno, Karzai aliviou as tensões com o Ocidente, especialmente com os EUA. O presidente Barack Obama havia condicionado o envio de mais tropas ao país à resolução da crise eleitoral.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também elogiaram a decisão do líder afegão.
A Casa Branca deixou clara sua crença em que, para que os EUA tenham sucesso no país, é essencial que haja uma governo legítimo e confiável em Cabul.
Obama deve se reunir com seus assessores nesta semana e na próxima para analisar o pedido do general Stanley McChrystal, que defende o envio de mais 40 mil soldados para a guerra afegã.