Kim cavalga em monte sagrado: um grande anúncio da Coreia do Norte está por vir

O ditador norte-coreano Kim Jong-un montou seu cavalo branco mais uma vez para inspecionar "locais de batalha revolucionários" em uma montanha sagrada onde a neve virgem alcança os joelhos. As imagens da cavalgada de Kim, divulgadas pela imprensa estatal da Coreia do Norte nesta quarta-feira (4), vieram acompanhadas do prenúncio de uma importante decisão política que será tomada no final deste mês – tão importante quanto o simbolismo do passeio de Kim.

A presidência do Escritório Político do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia decidiu convocar a 5ª Reunião Plenária do Comitê nos últimos dias de dezembro, segundo a Agência Central de Notícias da Coreia, com o objetivo de "discutir e decidir sobre questões cruciais, de acordo com as necessidades do desenvolvimento da revolução coreana e a mudança da situação no país e no exterior".

Em resumo: depois de dar aos Estados Unidos um prazo até o final do ano para mudar sua abordagem nas negociações de desnuclearização e de alertar que a Coreia do Norte seguiria um "novo caminho", Kim parece ter tomado sua decisão sobre qual caminho ele deverá seguir, disseram especialistas.

Provável fim do diálogo com os EUA

Em abril de 2018, Kim anunciou a interrupção dos testes de mísseis balísticos nucleares e intercontinentais, enquanto Coreia do Norte e Estados Unidos optavam pela diplomacia. Mas no mês passado o regime alertou que não havia motivos para se comprometer com compromissos anteriores, já que os norte-coreanos estavam se sentindo "traídos" pela decisão dos EUA de continuar com exercícios aéreos conjuntos com a Coreia do Sul.

Cheong Seong-chang, especialista em Coreia do Norte no Instituto Sejong da Coreia do Sul, disse que a cavalgada e o anúncio da reunião do comitê, no mesmo dia, não são um bom presságio para as relações com Washington.

"Kim Jong-un está demonstrando forte hostilidade e vontade de resistir aos Estados Unidos, a fim de obter apoio antes de anunciar o 'novo caminho'", afirmou. "É altamente provável que a Coreia do Norte anuncie a interrupção das negociações nucleares e o estabelecimento do status da Coreia do Norte como potência nuclear".

Ankit Panda, especialista da Coreia do Norte na Federação de Cientistas Americanos, disse que o plenário do Partido dos Trabalhadores é mais significativo do que o tão esperado discurso do Ano Novo de Kim. O último plenário ocorreu em abril, quando Kim pediu aos Estados Unidos que tomassem uma "decisão ousada", ameaçando colocar seu país em um "novo caminho".

"Presumivelmente, vamos saber o que acontece a seguir", tuitou, sugerindo novas orientações políticas importantes, com a possibilidade de envolver um retorno à política de desenvolvimento militar e econômico.

Na terça-feira, a Coreia do Norte deu um indicativo do que está por vir: alertou que o prazo dos EUA estava se esgotando e ameaçou um "presente de Natal" indesejado para os Estados Unidos. Analistas, porém, disseram que a decisão de Kim já pode ter sido tomada.

"A porta se fechou. Estamos apenas esperando para ver o que acontece a seguir", tuitou Panda.

Mito da montanha

O Monte Paektu é consagrado no mito revolucionário norte-coreano como o local de nascimento do pai de Kim, Kim Jong Il, e uma base militar fundamental para seu avô, Kim Il Sung, durante a luta contra o domínio colonial japonês. A visita do líder da terceira geração ao pico parece uma tentativa de polir suas credenciais de liderança e preparar o país para uma mudança de política. As visitas anteriores à montanha vieram antes de grandes decisões.

"É de notável importância histórica que Kim Jong-un, o grande líder de nossa revolução que abre o período de um grande salto para o desenvolvimento da revolução, tenha deixado pessoalmente o rastro sagrado nos locais de batalha revolucionários no Monte Paektu, a fonte da tábua de salvação da revolução e do patriotismo inesgotável, através da neve virgem até o joelho", relatou a KCNA.

Kim disse que seu passeio "consolidou sua determinação de defender os ganhos da revolução". Falou também que o povo norte-coreano precisava ter um entendimento adequado das "tradições revolucionárias" do Monte Paektu, e que isso os ajudaria a "demonstrar a dignidade e a honra do país diante do mundo". Esse espírito, acrescentou, permitiria que eles superassem "o bloqueio e a pressão sem precedentes impostos pelos imperialistas" e os ajudassem a "se preparar para a austeridade e o caráter prolongado de nossa revolução".