O ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-un, visitou uma instalação de armas para inspecionar o teste de uma "arma tática de alta tecnologia recém-desenvolvida", informou a mídia estatal norte-coreana nesta sexta-feira (horário local). Foi o primeiro anúncio público da Coreia do Norte sobre avanços militares desde que o país iniciou um processo diplomático com os Estados Unidos e a Coreia do Sul, no começo deste ano.
O Departamento de Estado dos EUA disse que continua confiante de que as promessas feitas por Kim em sua reunião de cúpula com o presidente Trump, em Cingapura, serão cumpridas.
O relatório, que não especifica que tipo de arma foi testado ou quando a visita de Kim ocorreu, vem em meio a incertezas sobre o processo diplomático que começou no início deste ano com o objetivo de reduzir as tensões e remover armas nucleares da Península Coreana. A Coreia do Norte cancelou abruptamente uma reunião planejada em Nova York entre o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, e o ministro de Relações Exteriores norte-coreano, Kim Yong Chol, no início deste mês. O Departamento de Estado atribuiu esse movimento a um conflito de agenda.
Mesmo assim, importantes funcionários do governo americano disseram, nos últimos dias, que uma segunda reunião de cúpula entre o presidente Donald Trump e Kim Jong-un, está sendo marcada para o início de 2019.
Frustração coreana?
Kim anunciou no início do ano que está focado no desenvolvimento econômico, e não no militar, e seus passeios de inspeção refletiram isso –pelo menos até agora.
A agência oficial de notícias coreana disse que o teste desta semana, realizado na Academia de Defesa Nacional da Ciência, foi bem-sucedido e que Kim não conseguiu reprimir sua "apaixonada satisfação".
"Este resultado hoje é uma justificativa da política do partido focada em ciência e tecnologia de defesa, outra demonstração de nossas capacidades de defesa para rápido crescimento em toda a região, e uma mudança inovadora no fortalecimento das capacidades militares de combate", disse Kim.
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Especialistas dizem que a Coreia do Norte tem ficado cada vez mais frustrada com os Estados Unidos por causa da insistência de Washington de que as sanções só seriam retiradas ao final de um longo processo de desnuclearização.
No início deste mês, o Ministério das Relações Exteriores da Coreia do Norte alertou que o país poderia voltar ao caminho do "pyongjin" – o desenvolvimento simultâneo de armas nucleares e desenvolvimento econômico – se as sanções não forem retiradas.
A mídia estatal também manifestou insatisfação nos últimos dias pela retomada de exercícios militares conjuntos, em pequena escala, pelos Estados Unidos e pela Coreia do Sul.
Pressão contra sanções?
O anúncio de sexta-feira não foi enquadrado nestes termos, como alguns testes com mísseis ocorreram no passado, mas Shin Beom-chul, pesquisador do Instituto Asan de Estudos Políticos, disse que este "é um movimento estratégico com intenção política deliberada", mais um exemplo da "diplomacia coercitiva" do Norte.
"Pyongyang está pressionando Seul e Washington pelo alívio das sanções que eles estão pedindo", disse ele. "Kim Jong-un está sinalizando que se tal demanda não for acomodada, Pyongyang pode voltar a buscar o desenvolvimento nuclear, como foi apresentado recentemente nos meios de comunicação estatais".
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Mas Lee Jong-seok, ex-ministro da unificação sul-coreano que agora trabalha no Instituto Sejong, disse que Kim, como comandante das forças armadas de seu país, pode realizar inspeções regulares nas instalações militares do país.
"Essa inspeção não significa necessariamente um desvio de qualquer atividade de orientação regular que o comandante militar de um país faria", disse ele. "Os principais alvos das negociações em curso sobre o desarmamento são os ICBMs (mísseis balísticos intercontinentais) e as armas nucleares. Exagerar nas atividades fora desse domínio não ajuda a alcançar o objetivo final da desnuclearização".
Kim disse que o sistema de armas testado foi aquele que seu pai, Kim Jong-il, estava especialmente interessado durante sua vida e liderou o desenvolvimento pessoal.
Reação
O Departamento de Estado minimizou a notícia.
"Continuamos confiantes de que as promessas feitas pelo presidente Trump e pelo líder Kim serão cumpridas", disse um porta-voz em um comunicado na quinta-feira.
Na cúpula de Cingapura, Kim prometeu trabalhar para a desnuclearização da península coreana, enquanto os dois líderes também prometeram abrir uma nova era de relações.
O Ministério da Unificação da Coreia do Sul disse que foi a primeira inspeção de campo pública de um teste de armas feita por Kim desde que ele observou o teste do míssil balístico intercontinental Hwasong-15 em novembro do ano passado.
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