Buenos Aires O presidente Néstor Kirchner deu ontem "uma banana" ao Fundo Monetário Internacional (FMI), rechaçando a possibilidade de negociar um novo acordo entre a Argentina e a instituição. "Aqui, que vamos fazer acordos com o FMI", disse o presidente, fazendo o clássico gesto da banana durante um longo discurso de abertura do ano legislativo em sessão do Congresso argentino. "Sob nenhum sentido, nenhum aspecto, estamos dispostos a fazer um novo acordo com o FMI", reiterou.
Falando por duas horas e meia, Kirchner destacou a forma como o país quitou sua dívida com o FMI, em janeiro de 2006, a qual permitiu que "já não tenhamos a ditadura" desse organismo, "manejando as finanças da Argentina". Em tom irônico, recordou as críticas recebidas por ter "arriscado as reservas" com o pagamento ao FMI, argumentando que, na realidade, elas "duplicaram" no último ano.
Kirchner também fez um apelo para que não se copiem "receitas enlatadas" e defendeu uma atuação coletiva para a construção de "um modelo em que o povo argentino seja o principal ator e beneficiário". O presidente reafirmou que a Argentina "é um país soberano" e que "a melhor base para o desenvolvimento nacional estratégico é um modelo argentino de crescimento e inclusão que inclua a criação de trabalho digno".
Kirchner destacou que "os resultados (econômicos) são eloqüentes em todas as frentes", já que o país registra o "quinto ano consecutivo de crescimento". Segundo ele, "é preciso olhar alto e longe para ter as bases de um projeto de Argentina plural e diversa, superamos os piores momentos e o país mostra um crescimento econômico sustentável que deixa atrás as carências de estruturas".
Em um extenso balanço sobre os quatro anos de governo, Kirchner afirmou que durante este período foram criados 3,4 milhões de postos de trabalho. "Se consolida a difusão do crescimento; podemos dizer que temos 8,7% de desemprego e que deixamos os dois dígitos, que foi característica da década anterior".
Faltando apenas oito meses para as eleições presidenciais na Argentina, Kirchner lembrou que quando foi eleito com apenas 22% dos votos, o índice de desemprego chegava a 27%.
O presidente afirmou que continuará com sua política econômica "heterodoxa" e que está convencido sobre a necessidade "de aumentar o consumo". Em relação à política externa, Kirchner autodenominou seu governo de caráter "latino-americanista" e defendeu sua relação com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. "Alguns questionam a aproximação a um povo irmão que colabora com a Argentina. Qual é o risco de que sejamos amigos da Venezuela? Qual é o problema de emitirmos conjuntamente US$ 1,5 de bônus do Sul, como fizemos agora? É hora de que tenhamos maioridade e não tenhamos medo: este país será sempre um país latino-americanista", disparou Kirchner.
Sobre a pobreza, Kirchner qualificou de "uma vergonha a quantidade de pobres que ainda existem na Argentina", mas ressaltou seu governo conseguiu "baixar a pobreza para a metade" O presidente voltou a mencionar que a Argentina vivia um "inferno" quando assumiu o governo, em maio de 2003. Também rejeitou a existência de uma crise energética na Argentina e culpou a imprensa por instalar essa versão nos debates públicos.