Buenos Aires (Reuters) O pedido do presidente argentino para que se deixe de comprar carne, com o objetivo de que uma menor demanda diminua os preços, começou oficialmente ontem com avisos nos principais jornais diários do país. O presidente Néstor Kirchner pediu à população na terça-feira que pare de comprar carne, em meio a uma disputa com o setor pelo aumento dos preços de um dos principais componentes da dieta dos argentinos. "Se o preço da carne não baixar, não compre", disse o governo em um aviso com letras brancas e fundo vermelho. "Escolha substitutos como frango, peixe, porco e legumes. Como consumidor, o poder está em suas mãos", acrescentou o governo no texto, assinado pela presidência do país.
Na Argentina, são consumidos em média 65 quilos de carne por pessoa em um ano, cerca de 2,5 milhões de toneladas, enquanto que as exportações alcançaram 770 mil toneladas no ano passado.
O boicote à carne convocado por Kirchner se soma à suspensão das exportações por 180 dias, que entrou em vigor na terça-feira, com o objetivo de que a mercadoria fique no país e uma maior oferta reduza os preços. A proibição de exportar carne é o auge de uma queda-de-braço que dura meses entre o Executivo e o setor criador de gado, que resistiu a assinar um acordo para garantir por um ano a estabilidade dos preços.
A suspensão das exportações, que permitirá voltar 600.000 toneladas de carne adicionais para o consumo interno, exclui os compromissos de venda que a Argentina, terceiro exportador mundial de carne bovina, tem com a União Européia dentro da chamada "Cota Hilton" (cortes de alta qualidade).
Os preços ao consumidor dos principais cortes de carne subiram mais de 25% em 2005, enquanto a inflação anual foi de 12,3%. No primeiro bimestre do ano, a carne se manteve estável, o frango teve queda de 2,8% e o peixe merluza fresca cresceu 7,3%.
A luta contra a inflação aparece como o principal desafio para Kirchner, em um país com três anos consecutivos de crescimento a um ritmo de 9% ao ano, em que houve queda do desemprego, pobreza e indigência; teve aumento das exportações e um forte superávit fiscal anual. Os preços ao consumidor subiram 1,7% no primeiro bimestre. O Banco Central estimou uma alta entre 8 e 11% para o ano, enquanto analistas privados consultados mensalmente pela entidade prevêem acréscimo de 12,4%.