Após o fracasso do plano de paz negociado com o regime sírio há quatro meses, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para o país, Kofi Annan, anunciou ontem que deixará o posto em 31 de agosto.
Segundo Annan, a falta de apoio do Conselho de Segurança das Nações Unidas e a "intransigência" do regime de Bashar Assad foram fundamentais na decisão.
"A crescente militarização em campo [na Síria] e a clara falta de unidade no Conselho de Segurança mudaram completamente as circunstâncias para o exercício efetivo do meu trabalho", disse Annan, em entrevista em Genebra (Suíça), pouco depois de sua renúncia ser anunciada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Para Annan, enquanto o povo sírio mais precisava de ação, os cinco membros permanentes do Conselho Rússia, China, Estados Unidos, França e Reino Unido , seguiam "apontando o dedo" uns aos outros.
Ele ainda criticou a resistência do governo Assad em aplicar o chamado Plano de Seis Pontos, que previa, entre outras medidas, que todos os lados renunciassem à violência. O cessar-fogo completo, cujo prazo para início era 12 de abril, nunca foi cumprido.
O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al Arabi, destacou os esforços de Annan como mediador internacional e disse que já começou a buscar, junto com a ONU, um substituto.
Os EUA culparam Rússia e China, que vetaram três resoluções no Conselho contra a Síria, pela saída. "A renúncia de Annan destaca o fracasso de Rússia e China em apoiar resoluções contra Assad", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.
Já o regime sírio disse que os "Estados que tentam desestabilizar a Síria" uma referência às potências ocidentais teriam colocado "obstáculos à missão" de Annan.
Ontem, a Rússia anunciou que votará contra a resolução redigida pela Arábia Saudita a ser apresentada hoje à Assembleia-Geral da ONU. Segundo Moscou, o documento coloca toda a responsabilidade do conflito nas mãos do regime e incentiva a os ataques da oposição ao governo.
O texto, que não tem um valor legal, critica o Conselho por fracassar em tomar ações sobre a Síria. No entanto, foi retirado do rascunho o pedido explícito dos árabes pela renúncia de Assad.
Presidente russo lamenta saída de enviado da ONU
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, lamentou ontem a renúncia de Kofi Annan do posto de enviado especial da ONU (Organização das Nações Unidas) à Síria. O mandatário chamou de "tragédia" a onda de violência no país, causada por conflitos entre opositores e tropas do regime de Bashar Assad.
O porta-voz da Casa Branca, Jay Carney, agradeceu Annan "pela vontade em desenvolver esforços para buscar uma resolução contra a violência na Síria". "Kofi Annan é uma pessoa muito respeitável, um diplomata brilhante e um homem muito decente, pelo que é realmente uma vergonha, mas tenho esperanças de que os esforços da comunidade internacional que visam acabar com a violência vão continuar", disse o presidente, em entrevista à agência de notícias Interfax.
Putin não comentou as acusações dos Estados Unidos, que culpam o país pela saída de Annan por vetar, junto com a China, três resoluções contra o regime de Assad no Conselho de Segurança.
A renúncia de Annan também foi lamentada pela Itália e a Liga Árabe. O Ministério de Relações Exteriores italiano pediu o aumento "urgente" da pressão sobre Assad e considerou a saída do ex-secretário-geral da ONU como um sinal negativo.