O enviado especial da ONU para a Síria, Kofi Annan, anunciou que deixará o cargo a partir de 31 de agosto e criticou a falta de entendimento no Conselho de Segurança| Foto: Denis Balibouse/Reuters

Batalha

Rebeldes atacam aeroporto militar próximo de Aleppo

Forças rebeldes bombardearam ontem o aeroporto militar de Menagh, 30 quilômetros ao noroeste de Aleppo, de onde decolam os helicópteros e aviões que atacam a cidade.

Um correspondente da AFP ouviu disparos procedentes da direção do aeroporto. Fontes rebeldes afirmaram que era um ataque para tentar assumir o controle do aeroporto de onde decolam os helicópteros e os aviões que atacam Aleppo.

O porta-voz da ONU, Martin Nesirky, afirmou que, segundo a missão das Nações Unidas na Síria, os rebeldes contam em Aleppo com armas pesadas, incluindo tanques. Os observadores também afirmaram que as tropas oficiais utilizam caças para bombardear Aleppo.

Em Damasco, a capital, tropas invadiram um subúrbio e mataram pelo menos 35 pessoas.

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Crianças sírias brincam com tanque abandonado em Aleppo
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Após o fracasso do plano de paz negociado com o regime sírio há quatro meses, o enviado especial da ONU e da Liga Árabe para o país,­­ Kofi Annan, anunciou ontem que deixará o posto em 31 de agosto.

Segundo Annan, a falta­­ de apoio do Conselho de Se­­gurança das Nações Unidas e a "intransigência" do regime de Bashar Assad foram fundamentais na decisão.

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"A crescente militarização­­ em campo [na Síria] e a clara falta de unidade no Conselho de Segurança mudaram completamente as circunstâncias para o exercício efetivo do meu trabalho", disse Annan, em entrevista em Genebra (Suíça), pouco depois de sua renúncia ser anunciada pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.

Para Annan, enquanto o­­ povo sírio mais precisava de ação, os cinco membros permanentes do Conselho – Rússia, China, Estados Uni­­dos, França e Reino Unido –, seguiam "apontando o dedo" uns aos­­ outros.

Ele ainda criticou a resistência do governo Assad em aplicar o chamado Plano de Seis Pontos, que previa, entre outras medidas, que todos os lados renunciassem à violência. O cessar-fogo completo, cujo prazo para início era 12 de abril, nunca foi cumprido.

O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al Arabi, destacou os esforços de Annan co­­mo mediador internacional e disse que já começou a buscar, junto com a ONU, um substituto.

Os EUA culpa­­ram Rússia e China, que vetaram três resoluções no Conselho contra a Síria, pela saída. "A renúncia de Annan destaca o fracasso de Rússia e China em apoiar resoluções contra Assad", disse o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney.

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Já o regime sírio disse que os "Estados que tentam desestabilizar a Síria" – uma referência às potências ocidentais – teriam colocado "obstáculos à missão" de Annan.

Ontem, a Rússia anunciou­­ que votará contra a resolução redigida pela Arábia Sau­­dita a ser apresentada hoje à Assembleia-Geral da ONU. Segundo Moscou, o documento coloca toda a responsabilidade do conflito nas mãos do regime e incentiva a os ataques da oposição ao governo.

O texto, que não tem um valor legal, critica o Conselho por fracassar em tomar ações sobre a Síria. No entanto, foi retirado do rascunho o pedido explícito dos árabes pela renúncia de Assad.

Presidente russo lamenta saída de enviado da ONU

O presidente da Rússia, Vla­­dimir Putin, lamentou ontem a renúncia de Kofi Annan do posto de enviado especial da ONU (Organização das Nações Unidas) à Síria. O mandatário chamou de "tragédia" a onda de violência no país, causada por conflitos entre opositores e tropas do regime de Bashar Assad.

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O porta-voz da Casa Bran­­ca, Jay Carney, agradeceu Annan "pela vontade em desenvolver esforços para buscar uma resolução contra a violência na Síria". "Kofi Annan é uma pessoa muito respeitável, um diplomata brilhante e um homem muito decente, pelo que é realmente uma vergonha, mas tenho esperanças de que os esforços da comunidade internacional que visam acabar com a violência vão continuar", disse o presidente, em entrevista à agência de notícias Interfax.

Putin não comentou as acusações dos Estados Unidos, que culpam o país pela saída de Annan por vetar, junto com a China, três resoluções contra o regime de Assad no Conselho de Segurança.

A renúncia de Annan também foi lamentada pela Itália e a Liga Árabe. O Ministério de Relações Exteriores italiano pediu o aumento "urgente" da pressão sobre Assad e considerou a saída do ex-secretário-geral da ONU como um sinal negativo.