Belgrado, Sérvia - Sérvia e Kosovo estão despachando exércitos de lobistas para atuar junto a governos de países que relutam em reconhecer a declaração de independência da província separatista.
A Sérvia, que considera Kosovo seu berço nacional e religioso, teme que a decisão tomada em julho pela Corte Internacional de Justiça (CIJ) a favor da legalidade da proclamação feita dois anos atrás venha a levar a uma nova onda de reconhecimento da independência kosovar.
Sua maior esperança de impedir a entrada do Kosovo na Organização das Nações Unidas (ONU) está no poder de veto das potências aliadas China e Rússia, que têm seus próprios problemas com separatismo num reflexo da preocupação existente em muitos países de que a decisão dê força a movimentos separatistas. Na última semana de julho, a Sérvia pediu à Organização das Nações Unidas (ONU) que reabra o debate sobre a independência de Kosovo.
Alguns especialistas acreditam que não exista uma maneira prática de evitar que outras regiões que querem a independência não se inspirem na experiência kosovar.
"O Ocidente quer dizer que esse caso em particular não tem importância nos precedentes, mas essa é uma lógica distorcida", observa Dana Allin, do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think-tank baseado em Londres.
Em sua decisão, que não tem força de lei, a Corte Internacional de Justiça da ONU alega que não determinou a legalidade do status jurídico de Kosovo, mas apenas a legalidade da declaração de independência do pequeno território balcânico, majoritariamente habitado por albaneses étnicos.
Revigorados
As regiões ao redor do mundo onde os separatistas poderão ser revigorados pela secessão de Kosovo incluem o País Basco e a Catalunha, na Espanha, a Escócia, na Grã-Bretanha, a população majoritariamente de etnia germânica da região italiana do Alto Ádige (Sud Tirolo) e algumas regiões da Romênia e da Eslováquia majoritariamente habitadas por húngaros étnicos.
A Ossétia do Sul e a Abkházia, que declararam independência da Geórgia, no Cáucaso, serão encorajadas a partir da declaração da CIJ de que declarações unilaterais de independência não são ilegais do ponto de vista do direito internacional. Na mesma região do Cáucaso, os separatistas armênios da região de Nagorno-Karabakh, que pertence legalmente ao Azerbaijão, buscarão legitimar a secessão, que na prática já dura desde o começo da década de 1990.
A decisão também pode ter efeitos no Oriente Médio, onde políticos curdos da região autônoma do Curdistão iraquiano já disseram que a estudarão com cuidado, e na Indonésia, onde pelo menos duas províncias, Aceh e Papua Ocidental, buscam a independência.