O ditador russo, Vladimir Putin, recebe em Moscou libertados numa troca de prisioneiros com o Ocidente| Foto: EFE/EPA/MIKHAIL VOSKRESENSKIY/SPUTNIK/KREMLIN POOL
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O Kremlin reconheceu nesta sexta-feira (2) que entre os oito prisioneiros russos trocados com os Estados Unidos e vários países europeus havia espiões dos serviços secretos, em uma troca que ocorreu em meio a uma aparente tentativa de reduzir a tensão diplomática antes de futuras negociações de paz para a resolução da guerra na Ucrânia.

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O porta-voz presidencial, Dmitry Peskov, admitiu em coletiva de imprensa que um dos libertados, Vadim Krasikov, é membro do Serviço Federal de Segurança (FSB, ex-KGB), e que outros três eram também agentes infiltrados ou de espionagem militar russa.

Além disso, justificou a recepção de heróis oferecida a eles ontem à noite pelo ditador russo, Vladimir Putin. 

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“É muito importante. É uma homenagem àquelas pessoas que servem o seu país e que, depois de provações muito difíceis, graças ao trabalho árduo de muitas pessoas, conseguiram regressar à sua terra natal”, declarou Peskov.

Krasikov, a quem Putin abraçou ao descer os degraus do avião após pousar em Moscou, era companheiro de vários guarda-costas do ditador.

“Ele era membro do grupo de elite Alfa do FSB, no qual serviu com alguns membros da equipe de segurança do presidente. É claro que eles o receberam ontem à noite”, explicou Peskov.

Em declarações à imprensa ocidental, Putin defendeu o assassinato cometido por Krasikov, afirmando que ele cumpriu o seu dever patriótico ao eliminar um “criminoso” ligado à guerrilha separatista chechena.

Krasikov deveria ter sido trocado em fevereiro pelo falecido líder opositor russo, Alexei Navalny, mas Putin torpedeou a troca no último minuto, segundo colaboradores do político.

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Peskov também comentou, sem revelar nomes, que outro dos libertados era um agente do serviço de inteligência militar (GRU).

“Os americanos tentaram pressionar esse agente do GRU (...). Encontraram o pai aqui. Houve uma conversa telefônica. O pai, ao contrário do que esperavam, disse ao filho que ele está fazendo tudo bem”, declarou o porta-voz.

O Kremlin também reconheceu que o casal formado por Artem Dulcev e Anna Dulceva, que admitiram acusações de espionagem antes de serem libertados na Eslovênia, eram “agentes infiltrados”.

Peskov explicou que Moscou decidiu incluí-los na troca porque “havia uma ameaça real de privação dos direitos de custódia dos filhos se permanecessem lá”.

Segundo o porta-voz, seus dois filhos “nem sabiam quem é Putin (...), só descobriram que eram russos quando o avião decolou de Ancara. Antes disso, não sabiam que eram russos e tinham alguma relação com o nosso país”.

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Peskov acrescentou que os filhos do casal, que usavam identidades argentinas falsas – Ludwig Gisch e Maria Rosa Mayer Munos – ,nem sabiam falar russo. “É por isso que Putin os cumprimentou em espanhol”, comentou.

Em Liubliana, capital eslovena, o casal havia alugado uma loja onde comercializavam imóveis e antiguidades até serem detidos em dezembro de 2022.

Por outro lado, o Kremlin evitou explicar o motivo da inclusão na lista de troca do jornalista espanhol de origem russa Pablo González, que chegou ontem à noite a Moscou depois de quase dois anos e meio preso na Polônia por espionagem.

“O motivo da inclusão e estes detalhes não podem ser objeto de discussão pública”, respondeu Peskov a uma pergunta da Agência EFE.

O repórter de 42 anos, que colaborou com a EFE, entre outros meios de comunicação, nasceu em Moscou em 1982 como Pavel Rubtsov, mas mudou-se para Espanha onde adotou o nome de Pablo González.

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O governo polonês afirmou nesta sexta-feira que libertou González por ser “um membro leal da OTAN, um aliado leal dos Estados Unidos”, depois de arquivar a investigação aberta contra o espanhol, a quem classificou como “espião com dupla cidadania”.

González esteve preso durante dois anos e cinco meses em prisão preventiva por suspeita de espionagem para a Rússia, embora Varsóvia nunca tenha apresentado acusações contra o jornalista.

Janela de negociação com os EUA

Muitos especialistas comentaram que a troca não tem precedentes na história, uma vez que inclui numerosos ativistas e defensores dos direitos humanos, o que alguns analistas consideram um primeiro passo para futuras negociações com os Estados Unidos sobre a Ucrânia e a segurança estratégica.

A este respeito, Peskov garantiu hoje que a troca e o diálogo para a resolução da Ucrânia são “questões completamente diferentes”, tal como os princípios que os regem.

Por outro lado, tanto Putin como o presidente dos EUA, Joe Biden, não hesitaram em tirar vantagens políticas da operação, tal como fez a candidata democrata, a vice-presidente Kamala Harris, que ganhou pontos sobre Donald Trump antes das eleições presidenciais de novembro.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]