Por dois anos consecutivos, Stephanie Varcia, de 11 anos, fez algo que, há cinco anos, seria inimaginável. Ela passou quatro semanas em Havana, brincando de esconde-esconde com seus primos e indo à praia com seus tios e tias. Quando as férias de verão terminaram, sua mãe foi de avião buscá-la, voltando com a menina para casa, em Miami.
A estada de Stephanie em Cuba um ritual cada vez mais comum nas famílias, que hoje inclui viagens de menores desacompanhados à ilha é um símbolo da profunda transformação no relacionamento entre cubano-americanos do sul da Flórida e cubanos de Cuba.
As férias da garota indicam mais que apenas um derretimento no amargo congelamento entre Cuba e Estados Unidos, que dura 50 anos. Trata-se de um reconhecimento, em muitos aspectos, de que a passagem do tempo e o desejo de estar com a família começaram a superar o cáustico impasse político que se seguiu à revolução comunista de Fidel Castro, em 1959.
Embora membros do Congresso no sul da Flórida ainda defendam uma linha dura em relação a Cuba, posição que soa bem junto a eleitores mais velhos (que têm mais probabilidade de realmente ir às urnas), a maioria dos cubano-americanos de Miami têm uma atitude menos rígida. Muitos deles preferem ver mais contato com as pessoas que estão em Cuba, não menos.
"A verdade é que o que motiva a política não é o relacionamento entre Estados Unidos e Cuba, mas entre cubanos, e isso é muito mais forte do que 50 anos de hostilidade entre governos", disse Joe Garcia, ex-presidente do Partido Democrático de Miami. "Quando se removem apenas algumas barreiras, as pessoas fazem o que fazem: ajudam suas famílias".
Apesar do embargo comercial e econômico dos Estados Unidos, imposto em 1960, os laços entre as duas populações cubanas começaram a mudar lentamente há uma década, e se intensificaram nos últimos dois anos resultado da atitude do governo de Obama de afrouxar as restrições a viagens e envios de mercadoria, em 2009. Decisões recentes tomadas pelo governo de Cuba, permitindo que os cubanos possuam celulares e computadores, abram pequenas empresas e comprem e vendam carros e imóveis, solidificaram ainda mais esses laços.
No entanto, a maior razão para essa reviravolta é a mudança do perfil dos cubano-americanos no sul da Flórida. Estima-se que haja cerca de 300 mil cubano-americanos nos Estados Unidos que chegaram após meados da década de 1990, a maioria através de um programa especial de visto. Hoje, eles superam em número os exilados cubanos da década de 1960, disse Jaime Suchlicki, diretor do Instituto para Estudos Cubanos e Cubano-Americanos da Universidade de Miami.
Ao contrário dos exilados que fugiram de Cuba nos anos 1960 e 1970, deixando para trás propriedades, famílias e seu país natal, essa rede de familiares imediatos da geração mais nova em Cuba é forte e ampla.
Assim, embora eles se oponham a Castro e enxerguem bem os fracassos de Cuba, a família é sua prioridade, não política ou ideologias. O mesmo vale até para alguns cubano-americanos das gerações anteriores que perderam a paciência com a longevidade de Castro e com um embargo de 50 anos que não teve sucesso em derrubá-lo.
"Os que chegaram mais recentemente não aceitam o isolamento e o confronto, porque isso significa isolar seus parentes", disse Fernand Amandi, da Bendixen & Amandi International, empresa de pesquisa de opinião pública de Miami. "Assim, os laços são muito mais próximos hoje, de pessoa para pessoa".