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O ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi, recebeu uma delegação de nove representantes do Talibã nesta quarta-feira, na cidade de Tianjin. O encontro faz parte de uma visita de dois dias do grupo fundamentalista islâmico à China para discutir negociações de paz e questões de segurança, no momento em que os laços entre o país asiático e o Talibã se estreitam antes da retirada completa das tropas dos EUA do Afeganistão.
A reunião ocorre no momento em que o Talibã emprega uma ofensiva para retomar o domínio do Afeganistão que já conquistou importantes passagens de fronteira com os vizinhos Irã, Uzbequistão, Tadjiquistão e mais recentemente o Paquistão.
A China espera que o Talibã "coloque os interesses do Afeganistão em primeiro lugar, mantenha o comprometimento com negociações de paz, defenda o objetivo da paz, crie uma imagem positiva e adote uma política inclusiva", segundo relato do Ministério de Relações Exteriores chinês. O governo chinês afirmou também esperar que o Talibã se distancie de grupos terroristas.
Criar uma imagem positiva faz parte da estratégia atual do Talibã, segundo Tanguy Baghdadi, professor de Política Internacional. O especialista explica que o Talibã tem usado o fato de já ter sentado para negociar com os Estados Unidos para promover uma nova imagem internacional, mostrando que o "novo Talibã" está disposto a estabilizar o Afeganistão.
"O curioso é que haja alguma credibilidade neste discurso, considerando que o Talibã vem reconquistando ferozmente território no Afeganistão, às custas da autoridade do governo, encastelado em Cabul", disse Baghdadi em seu perfil no Twitter, referindo-se às recentes ofensivas dos talibãs, que dizem estar negociando a paz com o governo do presidente Ashraf Ghani.
"O Talibã, falando como um verdadeiro governo, já anunciou que está pronto para receber investimentos chineses. O encontro foi realizado na cidade chinesa de Tiajin, com tanta tranquilidade que seria possível dizer que o Talibã, de fato, se tornou o novo governo do país", acrescentou o especialista.
Quando a retirada das tropas americanas foi acordada entre a gestão de Donald Trump e o Talibã, em 2020, o grupo militante se comprometeu a negociar com Ghani, mas pouco progresso foi feito em mais de um ano.
Barnett Rubin, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA e pesquisador sênior do Centro de Cooperação Internacional da Universidade de Nova York, disse ao Wall Street Journal que Pequim "se cansou" dos esforços de paz conduzidos pelos EUA e está "tentando usar sua influência para persuadir e, talvez, pressionar o Talibã a se envolver seriamente no processo de paz".
Apesar da aproximação com o Talibã, a China continua reconhecendo formalmente o governo de Ghani, com quem também mantém diálogo.
O interesse da China no Afeganistão
Acredita-se que grupos considerados terroristas pela China atuam no Afeganistão, como é o caso do Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, que segundo o governo chinês também é ativo na província de Xinjiang. Seja quem quer que assuma o governo do Afeganistão no futuro, a China quer neutralizar o que considera ser uma ameaça direta à segurança nacional – lembrando que os dois países dividem cerca de 90 quilômetros de fronteira.
A delegação do Talibã, se comprometeu nesta quarta-feira a "não permitir que ninguém use o dolo afegão contra a China".
Outro fator é a expansão do programa de infraestrutura Belt and Road Initiative no Afeganistão, país que está em uma localização geoestratégica chave, conectando o Sul da Ásia e o Oriente Médio e a Ásia Central. Muitos dos projetos chineses iniciados no país estão parados por causa da violência, por isso, garantir a paz poderia conduzir a novos negócios, especialmente no setor de energia e infraestrutura de transportes.
Ao comentar o encontro do governo chinês com o Talibã, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse que o envolvimento da China no Afeganistão "pode ser uma coisa positiva", se o gigante asiático estiver buscando uma "solução pacífica para o conflito" e um governo "verdadeiramente representativo e inclusivo".