A oferta de US$ 10 bilhões ao ano proposta pelos países ricos para ajudar nações pobres a se adaptarem às mudanças climáticas "não é suficiente" e a lacuna entre o que é oferecido e o que é necessário pode arruinar a conferência do clima de Copenhague, disse o bilionário norte-americano George Soros nesta quinta-feira. O alerta de Soros foi feito no mesmo dia em que embaixadores dos países pobres disseram em Copenhague que eles precisam de US$ 200 bilhões, pelo menos, para lutar contra a mudança climática. O dinheiro, sugerem, deveria vir do Fundo Monetário Internacional (FMI). Soros arriscou uma soma de US$ 100 bilhões, que também viria do FMI.
"Esse é o desafio que o presidente Obama precisa enfrentar. Isso é o que esperamos dele como um vencedor do Prêmio Nobel", provocou o embaixador Lumumba Stanislas Dia-Ping, do Sudão, representando os 130 países pobres do chamado G-77, mais a China
"Isso é o que esperamos dele como um dos partidários do multilateralismo", afirmou Dia-Ping a repórteres, durante as conversas da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em Copenhague. Para o embaixador, Obama representa tanto o mundo desenvolvido como os mais pobres, pois têm vários parentes na África.
Dia-Ping pediu que os EUA passem a fazer parte do Protocolo de Kyoto. Washington ajudou a formular o tratado em 1997, mas o abandonou em 2001. Ele descreveu o protocolo como "um acordo justo e equilibrado, que poderia salvar o planeta".
O negociador-chefe dos EUA, Todd Stern, descartou na quarta-feira que o país retorne ao Protocolo de Kyoto. "Nós certamente não seremos uma parte do Protocolo de Kyoto...isso não está em negociação."
Dia-Ping também pediu que os EUA ajudem a liberar US$ 200 bilhões em direitos especiais de saque no Fundo Monetário Internacional que, segundo ele, poderiam ser usados para o combate à mudança climática. "Você aprova bilhões de dólares em orçamentos para a defesa. Você não pode aprovar US$ 200 bilhões para salvar o mundo?", questionou Dia-Ping.
Soros sugere US$ 100 bilhões
Durante uma outra reunião de cúpula da União Europeia em Bruxelas, os países ricos da Europa Ocidental tiveram de pressionar seus relutantes e mais pobres vizinhos do leste a contribuírem para o fundo de US$ 10 bilhões. "Mesmo pequenas contribuições podem mostrar que todos os países europeus querem contribuir e que temos um valor total", disse Cecilia Malmstrom, ministra sueca para Assuntos Europeus.
O investidor e filantropo Soros, uma das várias pessoas famosas que participam da reunião de 192 países, disse aos jornalistas em Copenhague que desenvolveu uma solução parcial.
Soros sugeriu transferir parte dos recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) destinados a prover liquidez aos sistemas financeiros globais para uma nova missão de financiamento de projetos em países em desenvolvimento para a produção de energia limpa e a adaptação às mudanças climáticas.
Cerca de US$ 100 bilhões poderiam ser gerados de uma vez, disse Soros, um grande partidário das causas do mundo em desenvolvimento. Mas ele reconhece a existência de um grande obstáculo em Washington.
"É possível aumentar substancialmente a quantidade de recursos disponível para lutar contra o aquecimento global no mundo em desenvolvimento", disse Soros. "O que falta é vontade política. Infelizmente, a vontade política será difícil de reunir por causa do simples fato de que exige aprovação do Congresso nos Estados Unidos".
Soros disse ter tido "discussões informais" com funcionários do governo Obama e que eles reconhecerem a dificuldade de conseguir aprovação do Congresso. Mas ele disse que a questão é muito importante para ser deixada de lado.
"Eu acho que é está se tornando aparente nas negociações que há uma lacuna entre o mundo desenvolvido e em desenvolvimento nesta questão que pode realmente arruinar a conferência", disse ele.