Budapeste - A lama tóxica que vazou do reservatório de uma fábrica de alumínio na Hungria atingiu ontem o Danúbio, colocando em alerta autoridades dos países cortados pelo segundo maior rio europeu.
O vazamento, ocorrido na última segunda-feira na cidade de Ajka, formou uma enxurrada que passou por três cidades e por pequenos rios que deságuam em afluentes do Danúbio, deixando um rastro vermelho, quatro mortos e 120 feridos.
Segundo o porta-voz da agência de resgate húngara, Tibor Dobson, a lama chegou ao braço ocidental do rio ontem pela manhã, e atingiu seu curso principal por volta do meio-dia (7h em Brasília).
Ele afirmou que o pH da lama foi reduzido ao ponto de que pode não causar problemas ambientais mais graves. O material inicialmente testado tinha nível de pH 13 e, agora, 10.
O nível de pH neutro para água é 7, com leituras consideradas normais variando de 6.5 a 8.5. Cada nível de pH é 10 vezes superior ao nível anterior, o que significa que um pH 13 é mil vezes mais alcalino do que um pH 10.
A Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) disse à Agência Folhapress que o pH do lodo é alto porque, para a extração do alumínio, a bauxita é tratada com soda cáustica, e a lama lixo industrial resultante desse processo "tem altíssimo teor de alcalinidade".
Embora ainda não existam sinais de mortes de peixes no Danúbio, a vida no rio Marcal o primeiro a ser atingido pela lama e um integrante da mesma bacia hidrográfica "tem sido extinta", disse Dobson.
Equipes têm jogado centenas de toneladas de gesso e ácido acético vinagre no ponto em que o rio Raba se encontra com o Danúbio para tentar reduzir a alcalinidade da lama.
Alerta
Além da Hungria, os 2.850 km do Danúbio se estendem por seis países: Croácia, Sérvia, Romênia, Bulgária, Ucrânia e Moldova, antes de desaguar no mar Negro.
A União Europeia e governos temem que uma catástrofe ambiental afete os seis países se a lama vermelha contaminar o Danúbio.
Autoridades da Croácia, Sérvia e Romênia passaram o dia de ontem coletando amostras do rio e esperando que seu grande volume de água diminua o impacto do vazamento.
A Comissão Internacional para a Proteção do Danúbio, que coordena a conservação do rio e seus afluentes, disse que o vazamento pode gerar danos no longo prazo, tanto para o meio ambiente quanto para humanos.
O jornal The New York Times revelou que, em 2006, a entidade colocou a fábrica em Ajka em uma lista de 150 pontos industriais sob risco de acidentes que poderiam contaminar o Danúbio.
A MAL, proprietária da fábrica, insiste que a lama não é considerada lixo tóxico de acordo com as normas da UE.
Fábricas de alumínio existem em todo o mundo, mas as 12 maiores estão concentradas no Brasil, na Austrália e na China.