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São Paulo - O desejo dos chefes de Estado latinos de amplificar sua voz no cenário internacional traz dúvidas sobre a capacidade de a co­­munidade ganhar corpo, em meio às muitas divergências en­­tre seus membros.

Líderes de 32 países da Amé­­rica Latina e do Caribe anunciaram na última semana a criação da Comunidade de Estados La­­tino-Americanos e Caribenhos (Celac).

"Há um longo histórico de chefes de Estados latino-americanos criando organizações que não funcionam", lembra o professor Riordan Roett, diretor do Programa de Estudos Latino-ame­­ricanos da Universidade Johns Hopkins, em Washington.

Apesar da ressalva, Roett diz que essa ação pode ter um papel positivo em temas como mudança climática ou comércio internacional, por exemplo.

As autoridades reunidas estabeleceram um grupo de trabalho, encarregado de delinear melhor o que será a Celac. Na reunião seguinte, em julho em 2011, em Caracas, deve ser definido seu estatuto e delineada sua organização.

Marcelo Coutinho, professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), analisa a iniciativa com bons olhos, mas ressalta que "o avanço precisa ser visto com realismo".

Entre os problemas possíveis, segundo ele, está a possibilidade de haver uma concorrência com arranjos já existentes na região, como a Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) ou a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Outra questão apontada por Coutinho é que a Celac não de­­ve ser uma substituta da Organi­­za­­ção dos Estados Americanos (OEA), ou a "OEA do B", como foi aventado, apesar de ela ter perdido muito peso, sobretudo na úl­­tima década. Agora, é vista mais como uma entidade cara, burocrática e lenta, onde há "um fosso enorme entre os custos e os re­­sultados efetivos".

Coutinho prefere situar a Ce­­lac como um "desdobramento natural" do Grupo do Rio, criado em 1986, que é um mecanismo de consulta entre os governos, com reuniões periódicas. Dessa forma, a nova comunidade pode atuar mais no sentido de buscar "a concertação política, o diálogo entre os países, mínimos de­­nominadores comuns e levar es­­sas propostas em torno das quais há consenso para outros foros internacionais".

Outro aspecto importante do encontro em Cancún é o esforço do México de se aproximar dos vizinhos ao sul. Membro do Tratado Norte-Americano de Livre Comércio (Nafta), o México é em geral visto como mais próximo de Estados Unidos e Cana­­dá, mas a Celac pode ser um foro importante para ele se aproximar dessas outras nações.

"O Brasil tem sido uma força centrípeta na região", destaca Peter Hakim, presidente do instituto Interamerican Dialogue. Segundo ele, o país tem tido papel importante para promover a aproximação entre os vizinhos.

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