O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, criticou nesta segunda-feira (24) o Ocidente no Conselho de Segurança da ONU e acusou os Estados Unidos e seus aliados de terem colocado o mundo em um momento extremamente perigoso, o que gerou acusações de hipocrisia por parte dos mencionados.
“Como foi o caso durante a Guerra Fria, atingimos um limiar perigoso, talvez ainda mais perigoso”, declarou Lavrov, que acusou as potências ocidentais de “destruir os benefícios da globalização” com “agressão econômica” e de tentar impor suas políticas ao resto do mundo pela força.
“Ninguém deu permissão à minoria ocidental para falar em nome de toda a humanidade”, insistiu o chefe da diplomacia russa, que presidiu, em Nova York, uma reunião especial do Conselho de Segurança convocada por seu país e dedicada ao multilateralismo.
Em um discurso que durou mais de 20 minutos, Lavrov reiterou as mensagens habituais da Rússia sobre a guerra na Ucrânia, mas procurou, acima de tudo, denunciar o que ele alega ser uma tentativa do Ocidente de controlar o mundo e impedir o “estabelecimento de novos centros independentes de desenvolvimento”.
O chanceler russo acusou os EUA e outros países de destruir a arquitetura internacional criada após a Segunda Guerra Mundial - com a ONU em seu centro - em uma tentativa de substituí-la por uma “ordem baseada em regras” que “ninguém viu” e que não foi negociada.
“O Ocidente reformulou arrogantemente os processos do multilateralismo em nível regional para promover seus interesses”, afirmou.
Lavrov também argumentou que “medidas unilaterais ilegítimas” foram impostas a seu país e a outros e acusou suposta manipulação das regras e instituições comerciais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Essa entidade, de acordo com ele, tornou-se “uma ferramenta para cumprir os objetivos dos Estados Unidos e de seus aliados, incluindo objetivos de natureza militar em uma tentativa desesperada de afirmar sua dominação”.
“Os Estados Unidos embarcaram no caminho da destruição da globalização, que por muitos anos foi apresentada como o maior benefício para a humanidade”, disse.
“Nossa obrigação comum é preservar as Nações Unidas como o farol comprovado do multilateralismo e da coordenação de políticas internacionais. A chave para o sucesso são os esforços conjuntos, o abandono das pretensões de excepcionalismo e, repito, o respeito pela igualdade soberana dos Estados”, finalizou.
EUA denunciam hipocrisia
Em discurso na abertura da reunião do Conselho de Segurança da ONU presidida por Lavrov, o secretário-geral da entidade, António Guterres, havia denunciado a ilegalidade da invasão da Ucrânia e os efeitos devastadores ocasionados.
“A invasão russa à Ucrânia, em violação da Carta das Nações Unidas e do direito internacional, está causando um enorme sofrimento e devastação ao país e ao seu povo”, afirmou Guterres, ao mencionar que o conflito está agravando os problemas econômicos globais desencadeados pela pandemia de Covid-19.
Após a fala do chanceler russo, os Estados Unidos acusaram Lavrov de hipocrisia no seu discurso. “Nosso hipócrita organizador de hoje, a Rússia, invadiu a vizinha Ucrânia e atingiu o cerne da Carta da ONU”, disse a embaixadora americana nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield.
“Essa guerra ilegal, não provocada e desnecessária vai contra nosso princípio mais sagrado: que uma guerra de agressão e conquista territorial nunca, jamais é aceitável”, acrescentou.
Olaf Skoog, representante da União Europeia na ONU, disse que a Rússia “está tentando se apresentar como defensora da Carta da ONU e do multilateralismo”.
“Nada pode estar mais longe da verdade. É cínico”, criticou. “Todos nós sabemos que enquanto a Rússia está destruindo, nós estamos construindo. Enquanto eles violam, nós protegemos.”
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