O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, manifestou nesta quarta-feira (29) a surpresa de Moscou com o apoio dos Estados Unidos ao projeto de resolução sobre a Síria do Conselho de Direitos Humanos da ONU, considerados pelas autoridades russas como "unilateral e odiosa".
"Para minha grande surpresa soubemos que, além dos autores dessa resolução, Catar e Turquia, a delegação dos Estados Unidos promove da maneira mais ativa essa iniciativa pouco útil", afirmou o chefe da diplomacia russa em entrevista coletiva em Moscou.
O titular das Relações Exteriores transferiu sua surpresa ao secretário de Estado americano, John Kerry, durante as reuniões que mantiveram na última segunda-feira e ontem em Paris para tentar acertar a realização de uma conferência internacional sobre a Síria, proposta por ambos os governos no último dia 7 de maio.
"(Kerry) não tinha nem ideia e prometeu esclarecer a situação. Embora não sei se poderá fazê-la", apontou Lavrov, que qualificou de "unilateral e odiosa" a resolução promovida no Conselho de Direitos Humanos da ONU, que responsabiliza o regime do presidente Bashar al Assad pelo conflito sírio.
O ministro russo lembrou que uma resolução similar "foi aprovada anteriormente pela Assembleia Geral da ONU, embora o número de seus partidários tenha se reduzido a quase em um terço em comparação com outra (resolução) adotada no último ano".
"Para nós, a aprovação de tal resolução e sua insistente promoção, demonstrada por alguns países do Golfo Pérsico, significa pôr impedimentos na realização da iniciativa russo-americana", lamentou Lavrov.
Lavrov reiterou que tanto as resoluções da ONU como o levantamento do embargo de armas da União Europeia à oposição síria não colaboram com uma solução política, acrescentando que é intolerável "apoiar a conferência por palavra e, na prática, empreender passos dirigidos a sabotar essa mesma proposta".
"Declarar um embargo sobre algo que já estava proibido pelo direito internacional, incluído o direito da UE, foi de imediato uma medida com dupla interpretação. Levantar esse embargo agora torna a situação ainda mais difícil, assim como a convocação da conferência internacional", ressaltou o ministro russo.
A Rússia não vê "outra saída (ao conflito) a não ser a conferência, mas é necessário que todos trabalhem de forma honesta nessa direção e não demonstrem dois pesos e duas medidas".
Segundo Lavrov, "o conflito exige um caráter cada vez mais confessional, algo que pode aprofundar as contradições dentro do mundo islâmico e criar sérias ameaças para os grupos (religiosos) não muçulmanos que vivem na região".
A Rússia considera que alguns países do Golfo Pérsico freiam a convocação da conferência sobre a Síria, revelou uma fonte diplomática próxima à delegação que acompanhou Lavrov a Paris, segundo um artigo publicado hoje pelo jornal russo "Kommersant".
"O principal fator que dificulta a convocação da conferência é a postura e as provocações dos países do Golfo Pérsico aliados do Ocidente", assinalou o diplomata.
A diplomacia russa está convencida de que, "se a conferência fracassar, os atores internacionais que perseguem uma mudança de regime na Síria carregarão todas as culpas sobre a Rússia para justificar possíveis ações sem seu apoio e, portanto, sem o apoio do Conselho de Segurança da ONU".