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Em meados de março, as pesquisas apontavam que o atual presidente da França, Emmanuel Macron, se encaminhava para uma reeleição tranquila no pleito deste ano, que terá seu primeiro turno no domingo (10).
Segundo os levantamentos, Macron liderava a corrida eleitoral francesa com 12 pontos percentuais de vantagem sobre a segunda colocada, a direitista Marine Le Pen, a maior vantagem no primeiro turno de uma eleição presidencial na França desde a disputa de 1988 entre François Mitterrand (reeleito em segundo turno naquele ano) e Jacques Chirac.
As pesquisas mostravam já naquele momento que haveria segundo turno (marcado para 24 de abril), com algumas simulações apontando Macron com até 20 pontos percentuais à frente de Le Pen.
Até então, ele se beneficiava pela resposta à invasão russa à Ucrânia, e tudo indicava que estava no caminho para se tornar o primeiro presidente francês desde Chirac (1995-2007) a ser reeleito – Nicolas Sarkozy perdeu em 2012 para François Hollande, que não tentou um segundo mandato cinco anos depois.
Porém, em poucas semanas, a situação mudou. Uma pesquisa divulgada nesta sexta-feira (8), realizada pelo instituto Elabe para a BFM TV, mostrou que Macron e Le Pen agora estão empatados dentro da margem de erro (que é de 1 a 2,8 pontos percentuais), com 26% preferindo o atual presidente e 25% a sua principal adversária.
Os candidatos mais próximos dos dois são o esquerdista Jean-Luc Mélenchon (17,5%), o direitista Éric Zemmour, com 8,5%, e Valérie Pécresse, de centro-direita, com 8%.
Na simulação de segundo turno feita pelo Elabe, Macron apresentou 51% e Le Pen, 49%. Na eleição de 2017, ambos foram para o segundo turno e o candidato social-liberal venceu com 66% contra 34% dos votos válidos.
Mudança de foco
Analistas consideram que a candidata de direita, que em eleições anteriores enfatizou uma agenda anti-imigração, se beneficiou desta vez de um discurso que ressaltou a grande preocupação da população francesa no momento: os aumentos dos preços e do custo de vida.
Cecile Alduy, especialista em comunicação política na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e no Instituto de Estudos Políticos de Paris, disse à France-Presse que Le Pen “tomou a decisão de normalizar, suavizar e amenizar sua linguagem”.
“Seu programa pouco mudou nos fundamentos da imigração e da identidade nacional, mas ela optou por usar um vocabulário diferente para justificá-lo”, afirmou a analista.
Nesta sexta-feira, em entrevista à rádio RTL, Macron disse que entrou na campanha “tarde”, mas justificou que a situação na Ucrânia demandava sua atenção.
“Quem teria entendido seis semanas atrás se de repente eu começasse a fazer comícios, a me concentrar em questões internas, quando a guerra começou na Ucrânia?”, justificou Macron, que alegou que, se eleita, Le Pen afastaria investidores estrangeiros e que o programa de governo de sua adversária seria “racista”.
Em resposta, Le Pen afirmou à rádio France Info que Macron “não conhece” seu programa. “Eu o acho agressivo desde que entrou na campanha, nas posturas, nos comentários”, criticou a candidata. “Eu o desafio a encontrar uma única proposta no meu programa que discrimine os franceses por causa de sua origem, religião ou cor da pele, porque isso é racismo.”