A candidata Marine Le Pen, que disputará o segundo turno da eleição presidencial francesa após um resultado “histórico” na primeira fase, espera conquistar antes de 7 de maio os “10 pontos” que ainda lhe faltam para chegar ao Palácio do Eliseu.
“Dez pontos, acreditem em mim, é perfeitamente factível”, declarou na segunda-feira a candidata, que não joga a toalha, embora as pesquisas indiquem de forma unânime sua derrota contra o centrista pró-europeu Emmanuel Macron, com cerca de 40% dos votos.
“Podemos vencer e, de fato, vamos vencer”, assegurou a líder do partido Frente Nacional, que “sonha” há meses com um confronto com o ex-banqueiro de 39 anos, a quem descreve como o “representante da globalização selvagem”.
Para Marine Le Pen, que anunciou nesta segunda-feira (24) seu afastamento temporário da presidência do partido para se dedicar à campanha, o segundo turno da eleição terá a “forma de um referendo”, em que os franceses terão duas opções: a França ou o seu “desaparecimento”.
Este discurso garantiu a sua presença no segundo turno após atingir uma pontuação “histórica” de quase 7,7 milhões de votos. Mas, para ter chances reais de vencer, Marine Le Pen deve angariar votos para além do seu eleitorado tradicional.
Uma tarefa difícil depois que uma frente republicana começou a se formar na mesma noite do primeiro turno para impedir sua vitória, com inúmeras figuras de esquerda e da direita chamando os franceses a votar contra a extrema-direita.
A candidata, que apela à unidade de todos os “patriotas”, mergulhou de cabeça na campanha, multiplicando suas visitas de campo e entrevistas televisionadas sobre seus temas favoritos - imigração e segurança -, enquanto o seu adversário escolheu a discrição, o que tem levantado algumas críticas.
“A campanha do segundo turno ainda não começou. Pelo menos para ele”, lamentou nesta terça-feira o jornal econômico Les Echos.
Abstenção determinante
Para vencer em 7 de maio, Marine Le Pen terá que, pelo menos, dobrar o número de votos que recebeu no primeiro turno (7.690.000), se a participação se mantiver no mesmo nível.
Para isso, teria que encontrar argumentos para seduzir eleitores normalmente distantes do seu discurso político. A abstenção também poderia jogar a seu favor.
“Segundo as estatísticas, Marine Le Pen tem poucas chances, mas se houver uma participação de 70% (em comparação com 77,7% no domingo), o número de votos que precisa para ganhar diminuiria”, aponta Matthieu Chaigne, da Délits d’Opinion.
Neste cenário, Le Pen teria uma vantagem, uma vez que, de acordo com as pesquisas, a filha do líder histórico da extrema-direita conta com um eleitorado mais sólido do que Macron.
Em busca do eleitorado de Fillon
Sua estratégia de conquista do eleitorado do candidato conservador François Fillon, eliminado depois de uma campanha salpicada por escândalos judiciais, ficou clara nesta terça-feira (25) durante uma visita ao mercado de Rugins, nos subúrbios de Paris.
“Tenho um pensamento para os eleitores de François Fillon” (...) “Essas pessoas defenderam o seu candidato em condições extremamente difíceis (...) e são recompensadas ouvindo seu candidato dizer ‘vocês devem votar em Macron’“, lamentou a candidata, que denunciou uma traição.
Poucas figuras da direita se posicionaram a seu favor. A maioria dos tenores do partido Os Republicanos pediu votos para Macron. De acordo com uma pesquisa, 41% dos eleitores devem seguir esta recomendação, 33% poderiam depositar um voto por Le Pen.
A Frente Nacional também busca conquistar os 19,5% dos eleitores decepcionados do candidato da esquerda radical Jean-Luc Mélenchon. Este admirador de Hugo Chávez e Fidel Castro não anunciou quem apoiará no segundo turno.
“Muitos deles podem votar em nós”, assegura o vice-presidente da FN, Florian Philippot, que apontou algumas semelhanças entre seus programas, embora, segundo pesquisas, apenas 19% dos eleitores da formação França Insubmissa daria seu voto para Le Pen.