Democracia
Em meio às dificuldades, há os otimistas que veem uma "grande liberdade"
Apesar dos erros cometidos durante o processo de mudança no Iraque, alguns se mostram otimistas, como o jornalista Farid Kamal Zyad, que destaca a multiplicação dos meios de comunicação.
Zyad lembra que durante o regime de Saddam a internet era proibida, a posse de uma antena satélite se considerava um delito e os celulares quase não existiam.
"Com a passagem do tempo, o Iraque se dirigirá rumo a um sistema democrático completo que será um exemplo para os outros países", acrescentou o repórter.
Já o funcionário público Raad Habib Ali vai além e afirma que o Iraque vive agora sob um sistema democrático e que não voltará a ser uma ditadura.
Ali considera que existe uma grande liberdade no país, o que não existia no passado, e inclusive se pode insultar qualquer alto cargo do governo.
Algo muito diferente da época de Saddam Hussein, quando a frase de advertência mais conhecida, "as paredes escutam", demonstrava uma grande perseguição das autoridades contra qualquer suspeita de crítica.
Uma década se passou desde que os Estados Unidos invadiram o Iraque para derrubar o regime de Saddam Hussein (1937-2006), e apesar da liberdade alcançada, a violência e as crises sectárias impedem os cidadãos de desfrutarem da prosperidade e da estabilidade desejada.
Um resultado positivo ou catastrófico? É a pergunta que divide os iraquianos na hora de avaliar o legado da intervenção militar, cujo décimo aniversário coincidiu, na última quarta-feira, com uma onda de atentados que deixou pelo menos 60 mortos e 180 feridos.
Sobre as mudanças nos últimos dez anos, o comerciante Abdel Rahman Issa, de 43 anos, disse que agora há mais liberdade no país mas que a situação geral é péssima.
"Existe um caos e ninguém aplica as leis porque os responsáveis chegaram aos seus postos segundo cotas sectárias", acrescentou Issa, proprietário de uma loja em um mercado popular.
Segundo sua opinião, o Iraque "parece" um país democrático porque tem um Parlamento com deputados de vários setores: "a pergunta é se eles podem fazer algo".
Os atentados, a corrupção, a instabilidade política e a falta de serviços básicos prejudicaram o processo em direção à democracia após a queda do regime de Saddam em abril de 2003.
Três semanas antes, em 20 de março, os EUA lideraram uma coalizão internacional que invadiu o Iraque com o argumento de que o Iraque tinha armas de destruição em massa e laços com a rede terrorista Al-Qaeda.
Nos primeiros dois anos de ocupação, a maioria de xiitas e curdos apoiava a invasão americana, enquanto os sunitas a rejeitavam por considerar que servia a interesses estrangeiros.
Com a passagem do tempo e as frequentes detenções e agressões contra a população civil, vários iraquianos começaram a se opor às tropas americanas, que se retiraram definitivamente do país em 18 de dezembro de 2011.
Samir Mahmoud sofreu em sua própria família as consequências das detenções. Seu filho foi preso quando se encontrava em um mercado onde ocorreu um ataque contra soldados americanos. Samir, de 50 anos, denuncia que as forças americanas destruíram o Iraque ao assassinar e prender inocentes e lamenta a prisão de seu filho.
O aposentado Neym Abdullah destaca que as prisões estão cheias de inocentes, a tortura policial se tornou sistemática e o governo marginaliza certas seitas.
Alguns analistas acusam os EUA de terem criado bases políticas sectárias após a derrocada de Saddam em abril de 2003, que trouxe a instauração de um novo sistema com separação de poderes e uma Constituição aprovada em 2005.