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Tensão no leste asiático

Lei marcial comprova que a Coreia do Sul não é tão estável quanto o mundo pensa

Manifestantes entram em confronto com a polícia em Seul, após o presidente Yoon Suk-yeol decretar lei marcial – depois revogada (Foto: EFE/EPA/HAN MYUNG-GU)

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A Coreia do Sul é considerada um exemplo, pela forma como se transformou, na segunda metade do século XX, de um país pobre em um dos mais ricos do mundo: segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), deve fechar 2024 como a 12ª maior economia do planeta.

Exatamente por isso, o mundo ficou chocado com a decisão de Yoon Suk-yeol, presidente da Coreia do Sul desde maio de 2022, de declarar lei marcial no país nesta terça-feira (3), alegando que o principal partido da oposição, o Partido Democrático da Coreia (DPK, na sigla em inglês), seria “pró-Coreia do Norte” e que a medida era necessária para preservar a ordem constitucional.

Após o Parlamento do país votar pela revogação da lei marcial, Yoon decidiu voltar atrás e cancelou a medida.

Apesar do espanto mundial, crises institucionais não são uma novidade na Coreia do Sul, onde o sucesso econômico nem sempre foi acompanhado por estabilidade política – muito pelo contrário.

Antes desta terça-feira, a última vez que a lei marcial havia sido declarada na Coreia do Sul havia sido em 1979, quando o então ditador Park Chung-hee, que estava no poder desde 1961, foi assassinado por um amigo próximo, Kim Jae-gyu, diretor do Serviço Nacional de Inteligência do país.

A Coreia do Sul continuou sendo uma ditadura e em maio de 1980 ocorreu o massacre de Gwangju, quando estudantes que protestavam contra o ditador Chun Doo-hwan foram violentamente reprimidos. Estima-se que mais de 2 mil pessoas foram mortas.

A Coreia do Sul só voltaria a ser uma democracia em 1987, mas crises políticas continuaram a atormentar o país. Em 1996, Chun foi condenado à pena de morte pela repressão em Gwangju, mas recebeu perdão presidencial no ano seguinte.

Roh Tae-woo, eleito após o fim da ditadura, foi preso em novembro de 1995 por acusações de recebimento de propina e também foi processado pelo massacre de Gwangju em 1980. Condenado a 22 anos e meio de prisão, também recebeu perdão presidencial em 1997.

Roh Moo-hyun, presidente da Coreia do Sul entre 2003 e 2008, cometeu suicídio em 2009, após ser acusado de receber propina.

Não parou por aí: nos últimos dez anos, numa sequência parecida com a de países sul-americanos (como o Peru), a política sul-coreana foi abalada por escândalos de corrupção, processo de impeachment e prisão de ex-presidentes.

Em dezembro de 2016, Park Geun-hye, filha do ditador Park Chung Hee, se tornou a primeira presidente da história da Coreia do Sul a sofrer impeachment. Ela foi presa no ano seguinte e em 2018 foi condenada a 25 anos de prisão por corrupção e abuso de poder, mas recebeu um perdão presidencial no final de 2021 e libertada.

Em 22 de março de 2018, foi a vez de Lee Myung-bak, presidente da Coreia do Sul entre 2008 e 2013, ser preso, por acusações de recebimento de propina, peculato e sonegação fiscal.

Ele foi condenado a 15 anos de prisão, sentença que depois foi aumentada para 17 anos, mas em dezembro de 2022, também recebeu perdão presidencial.

Outro escândalo ocorreu em janeiro de 2019, quando o juiz Yang Sung-tae, ex-presidente da Suprema Corte da Coreia do Sul, foi preso por mais de 40 acusações, entre elas abuso de autoridade, pelo caso que resultou no impeachment de Park Geun-hye. Em janeiro deste ano, ele foi considerado inocente pela Justiça sul-coreana.

Casos de violência política literal, como o assassinato de Park Chung Hee em 1979, também são comuns na Coreia do Sul. Em janeiro deste ano, Lee Jae-myung, líder do DPK, foi esfaqueado enquanto visitava o canteiro de obras de um aeroporto na ilha de Gadeokdo, mas sobreviveu ao atentado.

Yoon Suk-yeol, que se tornou conhecido como um promotor anticorrupção linha dura e foi eleito presidente no início de 2022, também teve alguns escândalos no seu mandato, antes do episódio de decretação da lei marcial desta terça-feira.

Sua esposa, Kim Keon Hee, foi investigada por ter recebido de presente uma bolsa de luxo da Dior avaliada em 3 milhões de wons (R$ 13 mil) de um pastor e por supostamente ter participado de manipulação de ações. Os dois casos foram arquivados.

Mais recentemente, Yoon e Kim Keon Hee foram envolvidos em outro escândalo, de que teriam exercido “influência inapropriada” sobre seu partido, o conservador Partido do Poder Popular (PPP), para a escolha de um candidato para concorrer a uma eleição parlamentar suplementar em 2022, a pedido de Myung Tae-kyun, fundador de um instituto de pesquisas que conduziu pesquisas de opinião gratuitas para Yoon antes dele se tornar presidente, segundo informações da agência Associated Press.

Em novembro, Yoon negou as acusações. Porém, a julgar pelos episódios desta terça-feira, os problemas do presidente, cuja popularidade está abaixo de 20%, segundo pesquisas, estão apenas começando – e a instabilidade política na Coreia do Sul permanece.

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