Enquanto países nórdicos, do Báltico e do leste europeu tentam reduzir a influência russa, a Alemanha faz o contrário| Foto: Pixabay

Durante a maior parte do século 20, as nações bálticas foram dominadas pela União Soviética, a vizinha gigante do Lestes. Hoje, quase três décadas depois de obter a independência de Moscou, lembranças físicas do domínio ainda estão espalhadas pela região. O mesmo se aplica às suas economias. Até recentemente, Estônia, Finlândia, Letônia e Lituânia dependiam 100% do gás russo para suas necessidades energéticas. 

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Agora, os estados bálticos e nórdicos estão tentando se livrar da dependência da energia russa. A Finlândia e a Estônia estão construindo o Balticconnector, um importante novo gasoduto entre os dois países que poderia levar gás natural dos Estados Unidos e de outros países para a Finlândia. Será o primeiro gasoduto para a Finlândia que não se origina na Rússia. 

Gasodutos semelhantes na região já forçaram a gigante russa Gazprom a reduzir seus preços artificialmente altos, mas os benefícios são políticos e também econômicos. "É o último passo para desfazer o legado dos soviéticos na região", disse Emmet Tuohy, pesquisador do Centro Internacional de Defesa e Segurança de Tallinn. 

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Dependência maior na Europa Ocidental

Ao mesmo tempo, grande parte do resto da Europa está se preparando para amarrar ainda mais seu futuro energético a Moscou. A Rússia está construindo seu próprio gasoduto, o Nord Stream 2, que poderia dobrar a quantidade de gás natural exportado para a Alemanha. 

Este gasoduto tornou-se um ponto crítico da política energética europeia, colocando países que precisam de suprimentos confiáveis de gás russo contra outros que veem esses suprimentos como uma maneira de Moscou se intrometer nos assuntos da Europa. 

Para a União Européia, o gás natural é crítico: atualmente gera mais de um quarto das necessidades de eletricidade da União Europeia (UE), que estão crescendo. 

Um terço do gás da UE atualmente vem da Rússia, e Moscou espera aumentar ainda mais sua participação no mercado. Para garantir, a Gazprom está construindo dois novos gasodutos na Europa. Um deles, chamado South Stream, servirá os mercados do sul da Europa via Turquia e Grécia. Mas o projeto mais controverso é o Nord Stream 2, que termina no norte da Alemanha e está previsto para abastecer importantes países da Europa Ocidental. 

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Os países da Europa Ocidental esperam que ao aumentar o comércio de gás com a Rússia haja uma redução nas tensões e aprofundem os interesses econômicos comuns com Moscou. Mas os críticos do Nord Stream 2 temem que o projeto só torne a Europa ainda mais dependente da Rússia e vulnerável a seus caprichos políticos. 

Os críticos têm um poderoso aliado. Os Estados Unidos pressionaram a Alemanha nos últimos meses para parar o oleoduto. Durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU em setembro, Trump afirmou que a Alemanha se tornaria "totalmente dependente da energia russa se não mudasse imediatamente de rumo". A Casa Branca até considerou seriamente a imposição de sanções para suspender o projeto. 

Países da Europa Oriental e Central reforçam críticas

Com Washington na ofensiva, as nações do leste e do centro da Europa estão se sentindo encorajadas a aumentar suas críticas. O presidente polonês, Andrzej Duda, o Nord Stream 2 de "uma enorme ameaça" quando visitou a Casa Branca em meados de setembro. Nos países bálticos, o ministro das Relações Exteriores da Estônia, Sven Mikser, expressou ceticismo semelhante em julho, dizendo que o oleoduto estava "em contradição com os princípios da política energética da União Europeia" e advertindo que daria à Rússia "intervenção na política européia". 

Muitos desses países ainda se lembram da disputa entre a Ucrânia e a Rússia que começou em março de 2005. Naquela época, Moscou acusou Kiev de desviar o gás destinado à União Europeia e redirecioná-lo para seus próprios locais de armazenamento, evitando assim pagar pelo seu próprio consumo de energia. 

A disputa se intensificou em 2009, quando a Rússia parou de bombear gás através da Ucrânia para forçar Kiev a parar suas supostas práticas, que atingiram as nações que dependem em grande parte ou completamente do gás russo. 

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A Rússia e a Alemanha concluíram que precisavam de novos gasodutos para evitar a difícil rota da Ucrânia. 

As coisas ficaram ainda mais complicadas em junho de 2014, após uma revolta pró-europeia na Ucrânia que desencadeou a anexação da Crimeia pela Rússia. Enquanto os rebeldes apoiados pelos russos lutavam contra os soldados ucranianos, Moscou aumentou a pressão cortando o fornecimento de gás da Ucrânia. 

A pressão europeia sobre a Rússia acabou com o bloqueio, mas a Ucrânia e outros países do Leste Europeu temem que seus parceiros da Europa Ocidental estejam menos inclinados a ajudá-los quando receberem gás através dos novos oleodutos. 

"Isso aumentaria o poder de fogo da Rússia: de repente, eles teriam outra rota e opção para estrangular a Ucrânia e exigir melhores condições de trânsito", disse Nolan Theisen, chefe do Programa de Energia do Instituto de Política Globsec. 

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Pressão crescente

Na Alemanha, o Nord Stream 2 enfrentou uma resistência crescente em reação às operações militares russas na Geórgia, Ucrânia e Síria. 

Entretanto, há pouca chance de que a pressão funcione. "A Alemanha está há muito tempo entre os países da União Europeia com atitudes mais amigáveis em relação à Rússia, mas eles também simplesmente não poderiam ficar sem as entregas de gás russo", disse Andreas Heinrich, pesquisador sobre a Europa Oriental na Universidade de Bremen. 

A Europa Ocidental tem poucas alternativas. A Grã-Bretanha, a Noruega e os Países Baixos são os maiores produtores de gás do Oeste e do Norte da Europa, baseando-se principalmente nos campos de gás natural no Mar do Norte. Mas nas próximas décadas, os recursos próprios da Europa, que responderam por mais de um terço de seus suprimentos em 2016, deverão desaparecer gradualmente. 

Os suprimentos poderiam ser substituídos pelo gás natural russo ou pelo gás natural liquefeito (GNL ) - gás natural resfriado tanto que se torna líquido e se encaixa nos tanques de transporte. A nova tecnologia de fracking e perfuração já transformou os Estados Unidos no maior produtor de gás natural do mundo. Agora está tentando se tornar o maior exportador de GNL, com a Europa sendo seu maior mercado potencial. 

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Até agora, 4% do GNL americano vai para a Europa, em comparação com os 59% que são exportados para os mercados asiáticos. Isso pode mudar quando a construção de seis novos terminais portuários de GNL na Europa estiver concluída. A maioria está localizada em antigos estados membros da União Soviética. 

É por isso que os principais grupos empresariais alemães acreditam que os interesses de exportação americana, em vez de preocupações de segurança, estão por trás dos recentes ataques de Trump à Nord Stream 2. 

Dieter Kempf, presidente da associação industrial da Alemanha, disse ao jornal Süddeutsche Zeitung em uma recente entrevista que o GNL provavelmente nunca constituirá uma alternativa real ao gás russo. Ele argumentou que o transporte de GNL através do Oceano Atlântico é muito caro - uma conclusão atualmente compartilhada por vários especialistas em energia, incluindo Theisen. O transporte de GNL através do Atlântico pode levar semanas e construir os terminais onde o gás seria descarregado é caro. 

"GNL e gás russo vão competir, mas o GNL não substituirá as exportações russas", previu Theisen.