Mulheres contam malotes com os votos. Resultado oficial sai durante a semana| Foto: Anis Mili/Reuters

Clima

Líbios comemoram, mas ainda sofrem com a violência

Reuters

Os líbios seguem comemorando a realização de sua primeira eleição nacional livre em 60 anos, depois de desafiar a violência no sábado para votar no pleito, amplamente visto como o fim da era da ditadura de Muamar Kadafi.

Fogos de artifício iluminaram o céu da capital Trípoli, enquanto na cidade de Benghazi (leste), palco de protestos por aqueles que demandam mais autonomia, as pessoas comemoravam atirando foguetes em direção ao mar.

Até mesmo em Sirte, cidade natal de Kadafi, cenário de alguns dos piores combates e danos durante a revolta do ano passado e apoiada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para acabar com o governo de 42 anos, havia alívio, porque a votação correu bem. "Allahu akbar (Deus é maior), cantava uma mulher que comemorava com a família nas ruas.

Mas a violência persiste mesmo durante o clima democrático. No sábado, um homem foi morto a tiros por um segurança quando tentava roubar uma caixa de cédulas de votação na cidade de Ajdabiya. Outro foi assassinado em um tiroteio durante confronto entre manifestantes e partidários da eleição em Benghazi.

Com o pleito chegando ao fim no país, as autoridades disseram que 98 por cento dos centros eleitorais abriram em algum momento durante o dia, para a escolha de uma assembleia de 200 membros que vai nomear um primeiro-ministro e abrir o caminho para as eleições parlamentares de 2013.

A comissão eleitoral disse, depois que a votação terminou, que 1,6 milhão dos cerca de 2,8 milhões de eleitores registrados haviam votado – uma participação de pouco menos de 60 por cento.

Ao ser perguntado em uma entrevista coletiva quando os resultados seriam divulgados, o presidente da comissão, Nuri Al Abbar, disse que a previsão é que nesta segunda-feira já exista uma prévia do resultado oficial.

Candidatos com agendas islamitas são maioria em um total de 3.700 aspirantes, sugerindo que a Líbia será o próximo país da Primavera Árabe – depois de Egito e Tunísia – a ver partidos religiosos garantirem o controle do poder.

A divulgação dos resultados pode ainda ser um problema caso facções rivais questionem sua validade em um país ainda repleto de armas da sua guerra civil.

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Informações preliminares divulgadas na tarde de ontem apontam que a coalizão liberal – Aliança das Forças Nacionais (AFN) – encabeça os resultados da maioria dos colégios eleitorais da Lí­­bia após as primeiras eleições históricas de sábado, que contaram com 60% de participação e que valeram ao país elogios da comunidade internacional. O chefe do Partido da Jus­­tiça e da Construção (PJC), procedente da Irmandade Mu­­çulmana, Mohamed Sawan, disse haver um considerável avanço da AFN em Trípoli e em Benghazi. As cidades reúnem mais de 40 pequenos partidos que giram em torno dos artífices da revo­­lução de 2011, feita contra­­ o regime de Muammar Ka­­dafi. "Segundo as informações preliminares, a coalizão está liderando as apurações na maioria dos colégios eleitorais", disse Faisal al-Krekchi, secretário-geral da AFN. Caso esses resultados se confirmem – o oficial­­ sai durante esta semana – a Líbia será uma exceção aos casos de Tunísia e Egito, onde os islamitas chegaram ao poder nas primeiras eleições celebradas após as quedas de seus respectivos ditadores, decorrente da série de revoltas conhecidas como Primavera Árabe. Vários observadores eleitorais em Trípoli e Benghazi contam com uma esmagadora vitória dos liberais, cogitando a obtenção de cerca de 90% dos votos em alguns bairros, como Abu Salim, na capital. A comunidade internacional teceu uma série de elogios ao processo eleitoral histórico no país. A União Europeia (UE) considerou que as eleições se desenvolveram "em um clima de liberdade" e o presidente norte-americano, Barack Obama, felicitou o povo líbio pela "outra etapa importante de sua extraordinária transição para a democracia". Além da AFN, duas outras formações políticas se destacaram durante a campanha eleitoral: os islamitas do Partido da Justiça e da Construção (PJC), um braço da Irmandade Muçulmana, e o Al-Watan, do polêmico ex-chefe militar de Trípoli Abdelhakim Belhaj.

A repartição geográfica dos assentos da assembleia foi muito discutida, sobretudo no leste do país, onde­­ os partidários do federalismo pediam mais deputados. O Conselho Nacional de­­ Transição decidiu finalmente distribuir assentos de acordo com considerações demográficas, de modo que 100 serão eleitos no oeste do país, onde há o maior número de habitantes.

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O CNT também decidiu­­ sob pressão que o sistema­­ de votação da futura Assem­­bleia Constituinte seja por maioria de dois terços, de modo que o oeste do país não possa tomar uma decisão sem a aprovação das outras regiões.