Funcionários do jornal El Universo marcham em Quito carregando um caixão falso em protesto contra a condenação de executivos da empresa e jornalista| Foto: Camilo Pareja/AFP

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El Universo diz que punição é golpe

AFP

A condenação do jornal El Universo em um processo por difamação aberto pelo presidente equatoriano Rafael Correa supera todos os ataques que a publicação já recebeu em seus 90 anos de história, afirmou ontem a direção da empresa.

"A decisão do presidente Correa supera amplamente os vários ataques que suportamos de ditadores militares e civis, grupos econômicos autocratas e poderosos inconformados com nossa posição pluralista, livre e democrática", assinalou o jornal em um comunicado.

Na véspera, a Corte Nacional de Justiça (CNJ) do Equador confirmou em última instância a condenação a três anos de prisão e ao pagamento de US$ 40 milhões de três diretores e de um jornalista do jornal El Universo.

O processo teve início em março de 2011, após a publicação de um artigo do ex-editor de opinião do jornal Emilio Palacio, no qual, segundo Correa, ele é chamado de "assassino de lesa humanidade". Além de Palacio, a decisão envolve o diretor do El Universo, Carlos Pérez, e os editores César e Nicolás Pérez.

A condenação de Palacio, que pediu asilo político em Miami, já havia sido confirmada, depois que a justiça rejeitou a apelação. O Panamá, por sua vez, concedeu asilo a Pérez, enquanto que seus irmãos se encontram exilados em Miami.

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A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e a Or­­ganização das Nações Unidas (ONU) manifestaram ontem preocupação em relação à liberdade de expressão no Equador. Em nota divulgada no site da Organização dos Estados Americanos (OEA), a relatora especial para a Liberdade de Expressão da CIDH, Catalina Botero Marino, e o relator especial da ONU para Liberdade de Opi­­nião, Frank La Rue, reforçaram que não há interesse social que justifique a condenação penal de três diretores e um jornalista do El Universo a três anos de prisão e ao pagamento de multa de US$ 40 milhões por publicarem uma su­­posta ofensa ao presidente Rafael Correa.

"A CIDH estabeleceu há uma década que a utilização do direito penal na punição de expressões sobre funcionários públicos ma­­cula o artigo 13 da Convenção Americana. Não há um interesse social imperativo que justifique esta utilização, que foi desnecessária e desproporcionada e pode servir como meio de censura indireta, dado o seu efeito amedrontador e inibidor de debate", diz o documento publicado.

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Ainda de acordo com o texto, a punição civil a um abuso de ex­­pressão deve ser proporcional, feita de forma que não cause um efeito inibidor, pois pode comprometer a vida pessoal e familiar de um indivíduo que denuncia um funcionário público.

"A Corte Interamericana também estabeleceu que, em relação a uma eventual responsabilidade civil, a condenação deve ser estritamente proporcional, a fim de não comprometer o exercício da liberdade de expressão, pois o temor da sanção civil demasiada pode ser mais intimidante do que uma sanção penal, comprometendo a vida pessoal e familiar do réu", reforça a nota.

Por parte das Nações Unidas, Frank La Rue afirma no texto que todo funcionário público está sujeito a um maior nível de crítica, em função da qualidade de seu cargo.

Portanto, de acordo com o artigo 19 do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, tal condição deve ser compreendida pelos líderes de Estado, que têm o dever de respeitar os direitos de liberdade de expressão.

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) criticou a confirmação da sentença e a classificou como "um grave atentado contra a liberdade de imprensa". O presidente da SIP, Milton Coleman, editor do jornal Washington Post, considerou que a condenação é "uma mordaça para o jornalismo independente".

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"Esta sentença infringe princípios interamericanos em matéria jurídica sobre direitos humanos e liberdade de expressão", afirmou Coleman.

A crítica da SIP soma-se à de várias organizações internacionais, entre elas a RSF (Repórteres Sem Fronteiras), que considerou o resultado um "revés devastador para a liberdade de expressão".