À primeira vista, a reeleição do presidente colombiano Alvaro Uribe foi uma boa notícia para o governo de George W. Bush e para a batalha dos Estados Unidos para conquistar os latino-americanos.
Uribe é forte aliado de Washington numa região onde impera o sentimento antiamericano. Mas o modo como ele vai lidar com o presidente Hugo Chávez, principal antagonista dos Estados Unidos na América Latina, será uma das principais questões de seu segundo mandato.
Colômbia e Venezuela têm governos de ideologias díspares, mas ainda assim podem se aproximar se colocarem em primeiro plano problemas como o comércio e a segurança, afirmam alguns analistas.
"Nos próximos quatro anos, a Colômbia vai ficar entre dois fogos - os EUA e a Venezuela", afirmou o jornal colombiano "El Tiempo". "O presidente terá de mostrar grandes habilidades em estratégia internacional. A Colômbia seria um aliado atraente para ambos os países".
O conservador Uribe conquistou no domingo uma vitória arrasadora, logo no primeiro turno, baseada principalmente no sucesso do combate às guerrilhas de esquerda no país.
Seu governo recebeu enormes quantias dos EUA para agir contra os insurgentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e contra as milícias de ultradireita que há décadas se confrontam no país. Uribe também é adepto das políticas de livre mercado pregadas por Washington como a solução para os problemas sociais da América Latina.
Na Venezuela, Chávez promoveu uma revolução ao estilo socialista, pintando os EUA como a personificação do mal e recrutando aliados em outros países, principalmente a Bolívia.
O Brasil e a Argentina ajudam a compor a onda esquerdista na América Latina, e ela pode se espalhar ainda mais com as próximas eleições no Peru e no México.
- A vitória de Uribe poderá ser vendida em Washington como uma contratendência ao que está ocorrendo na América Latina, mas não deveria - disse Larry Birns, diretor do Conselho de Questões Hemisféricas, em Washington.
Segundo Birns, a Colômbia tem de manter boas relações com a Venezuela por causa da proximidade geográfica.
Além disso, Uribe vem tentando demonstrar independência em relação aos EUA, acusando a potência de interferir demais em questões internas. Também fez um plano de paz para desmobilizar os grupos paramilitares que pode desagradar aos Estados Unidos, pois dificulta as extradições.
Em seu discurso de vitória, Uribe cumprimentou os norte-americanos e pediu integração. Ele disse que quer avançar com os pactos comerciais regionais.
Rafael Guarín, professor de Ciências Políticas na Universidade de Rosário, disse que a Colômbia terá de aumentar as relações econômicas com a Venezuela. O comércio entre os dois países vem aumentando, e está em cerca de US$ 2 bilhões ao ano.
- Uribe tem de "desideologizar" o relacionamento com a Venezuela e dar prioridade ao comércio - disse Guarín.
Apesar das diferenças e da fala dura, Uribe e Chávez mantêm relações amistosas. Mas nem todos confiam nessa amizade.
- Uribe e seu partido são o demônio para Chávez - disse Riordan Roett, diretor de estudos latino-americanos da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Universidade Johns Hopkins, em Washington.
Para ele, Chávez está cada vez mais isolado, inclusive por governos de esquerda como o brasileiro.
- Há seis ou oito meses, parecia que Chávez ia conquistar a América do Sul. Não é o que acontece agora - disse Roett. - Todos querem pôr Chávez em quarentena. A coisa saiu do controle.
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