O líder da Argélia, Abdelaziz Bouteflika, renunciou ao cargo nesta terça-feira (2), após quase dois meses de protestos contra seu governo.
No poder desde abril de 1999, ele era pressionado pelos manifestantes e pelas Forças Armadas a deixar o cargo.
Após o chefe do Exército, o general Ahmed Gaed Salah ter afirmado na segunda-feira (1º) que o presidente não estava apto para o cargo, Bouteflika concordou em deixar o poder antes do fim do seu mandato – que acaba em 28 de abril –, mas sem estabelecer uma data para a renuncia.
Isto, porém, não acalmou a oposição e os manifestantes, que voltaram às ruas da capital Argel nesta terça para exigir a saída imediata do presidente.
Também nesta terça, um comunicado do Ministério da Defesa duvidou da promessa de Bouteflika de deixar o poder. Na texto, o próprio Salah pediu que fosse "iniciado imediatamente" o processo constitucional para que o presidente fosse retirado do cargo.
Logo depois da divulgação do comunicado, a imprensa estatal afirmou que Bouteflika apresentou sua renúncia ao Conselho Constitucional.
Abdelkader Bensalah, presidente do Senado, assumirá o cargo de presidente interino por 90 dias, até que novas eleições sejam realizadas.
Contexto
Bouteflika, 82, raramente é visto em público desde que sofreu um derrame em 2013.
As manifestações contra o presidente vinham ocorrendo desde a segunda quinzena de fevereiro, e deixaram ao menos 183 feridos. O estopim foi o anúncio de Bouteflika de que concorreria a um quinto mandato presidencial.
Devido às manifestações, ele anunciou em março que tinha desistido da ideia e adiou a eleição, que estava marcada para 18 de abril.
Os opositores acusam seu governo de corrupção crônica e de falta de reformas econômicas para combater o alto índice de desemprego, que excede 25% entre pessoas com menos de 30 anos. Também rejeitam a tradição de intervenção militar em assuntos civis no país, e querem desmantelar a elite do poder.
O partido de Bouteflika, a Frente de Libertação Nacional, domina a política algeriana desde que o país se tornou independente da França, em 1962. Sua presidência foi saudada por reconciliar a Argélia, dividida após uma guerra civil nos anos 1990 cujo saldo foi de 200 mil mortos.
Em 1991, um golpe militar cancelou as eleições daquele ano, vencidas pela Frente Islâmica de Salvação, o que fez os islâmicos pegaram em armas.
As manifestações de 2019 foram as maiores na região desde a Primavera Árabe, em 2011, que derrubou governos em vários países do Oriente Médio e do Norte da África, dentre os quais Líbia e Tunísia, vizinhos da Argélia. Na época, o governo de Bouteflika aumentou os investimentos sociais para evitar uma insurreição semelhante.
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