O mulá Mohammad Omar, líder do Talibã hoje foragido, usou o dia mais sagrado do islamismo para avisar que seus homens vão levar sua campanha no Afeganistão a níveis "surpreendentes" de intensidade, em meio aos esforços para expulsar as forças estrangeiras dali.
Em uma extensa mensagem dirigida aos afegãos no Eid al-Fitr, que marca o fim do mês sagrado do Ramadã, Omar também conclamou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a retirar seus quase 20 mil soldados do país islâmico e a não mais sacrificar soldados em nome dos EUA.
Omar acrescentou que os afegãos continuavam ao lado dele.
"Com a bênção de Alá, os combates vão se intensificar e serão organizados nos próximos meses", disse na mensagem escrita em pashtun. O texto, assinado pelo "Líder dos Fiéis da Resistência Afegã", foi enviado para meios de comunicação e postado na internet.
"Tenho certeza de que os combates serão algo surpreendente para muitos", afirmou o líder, que perdeu um olho em combate e por quem é oferecida uma recompensa de US$ 10 milhões.
Este foi o ano mais violento do Afeganistão desde que o governo islâmico de Omar viu-se derrubado do poder por uma invasão liderada pelos EUA e realizada em 2001.
A Otan, que, neste mês, assumiu o comando nacional da guerra contra o Talibã substituindo os americanos, diz que os ataques no sul diminuíram depois de centenas de insurgentes terem morrido em uma ofensiva de duas semanas realizada no mês passado e batizada de Operação Medusa.
VÍDEO DO TALIBAN
Mas os combates e os atentados a bomba continuam sendo eventos quase diários no país e o governo afegão avisou que o número de ataques suicidas deve aumentar antes do inverno, quando o nível dos combates costuma diminuir.
Uma autoridade policial disse que 15 homens haviam sido detidos tentando entrar em Cabul com explosivos antes do Eid.
Um vídeo do Talibã obtido pela Reuters neste mês mostra combatentes bem armados e bem equipados caminhando pelas montanhas do Uruzgão, no sul. As imagens também mostram os homens travando combates, saqueando um posto policial e decapitando acusados de serem espiões.
No vídeo, vários homens-bomba prometem morrer em nome da campanha para expulsar os "infiéis" do país.
Omar afirmou que o presidente afegão, Hamid Karzai, enfrentaria a justiça islâmica por cooperar com o governo americano.
"O regime fantoche de Cabul não conseguiu impor a paz e a estabilidade e nem acabar com o tráfico de drogas", disse o líder do Talibã, acrescentando que membros do governo estavam envolvidos no comércio de ópio.
Autoridades e analistas dizem que o Talibã consegue parte de sua verba por meio de dinheiro vindo de barões da droga interessados em alimentar os combates e a insegurança para manter a polícia e as autoridades longe dos campos de cultivo de papoula e das rotas de tráfico.
O Afeganistão fornece 90% do ópio consumido no mundo. O ópio é a matéria-prima da heroína e sua produção deve aumentar 60% neste ano, segundo previsões.
Em declarações dadas a repórteres depois das orações do Eid, no palácio presidencial, Karzai não fez comentários sobre a mensagem de Omar. Mas pediu aos afegãos que não fossem seduzidos pelo Talibã.
- Minha mensagem para os que estão sendo usados por estranhos e que estão matando as pessoas e seus filhos, destruindo seus lares, minha mensagem é para que se libertem da garra da ameaça - disse. - Essa ameaça está destruindo o Afeganistão há anos.
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