A líder interina do Quirguistão, Roza Otunbayeva, disse nesta terça-feira, em entrevista exclusiva à Associated Press, que seu governo vai estender por um ano o aluguel de da base aérea norte-americana, que tem grande importância para a guerra no Afeganistão, e garantiu a segurança do presidente deposto Kurmanbek Bakiyev se ele renunciar e sair do país.
Bakiyev disse estar disposto a renunciar, mas quer imunidade para sua família e para seu círculo próximo como condição para deixar o cargo, um pedido que pode bloquear um acordo para a transferência de poder e elevar a desordem no país da Ásia Central.
Otunbayeva disse à AP que o acordo que permite os Estados Unidos usarem a base aérea de Manas será prolongado depois que o atual acordo de um ano terminar em julho. "Ele será automaticamente estendido por um ano", disse ela.
Da base aérea norte-americana, no aeroporto internacional da capital, partem voos de reabastecimento para aviões de guerra no Afeganistão. O local também serve de importante centro para a distribuição de tropas.
Na entrevista, Otunbayeva disse que seu governo oferecerá garantias de segurança para Bakiyev deixar o cargo de sair do país, mas que não oferecerá tal imunidade para sua família. "Nós ofereceremos as garantias de segurança às quais ele tem direito sob a Constituição", disse ela.
Bakiyev fugiu da capital Bishkek na quarta-feira depois que uma manifestação contra corrupção, o aumento das tarifas de serviços públicos e a deterioração dos direitos humanos foi combatida pela polícia, deixando pelo menos 83 mortos. Como consequência, os manifestantes invadissem a sede do governo.
Ele disse aos jornalistas em sua vila natal, Teyitno sul do país, que iria embora e deixaria de reclamar o poder se as autoridades interinas garantirem "minha própria segurança e a dos membros da minha família e dos que estão perto de mim".
Tanto os Estados Unidos quanto a Rússia, que também tem uma base militar no Quirguistão, observam a violência na empobrecida ex-república soviética com preocupação.
A secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton conversou com Otunbayeva no final de semana para oferecer ajuda humanitária e discutir a importância da base aérea dos Estados Unidos. O secretário-assistente de Estado Robert Blake vai viajar para o Quirguistão na quarta-feira para negociações que incluem o status da base.
Otunbayeva disse à AP que seu governo espera continuar a receber cerca de US$ 47 milhões por ano em ajuda financeira dos Estados Unidos, acrescentando que a ajuda externa é vital para apoiar a democracia no país. Ela disse que seu governo também espera que a Rússia forneça algum tipo de ajuda emergencial.
O governo interino já ameaçou lançar uma operação especial para deter Bakiyev, medida que, segundo ele, vai acabar em derramamento de sangue.
Bakiyev mostrou sua disposição em deixar o país após uma manifestação com cerca de 5 mil manifestantes, aparentemente um teste para sua capacidade de resistir ao autodeclarado governo provisório. A multidão saudou Bakiyev, mas há dúvidas sobre o verdadeiro apoio que ele tem e se contaria com lealdade suficiente nas forças de segurança para formar uma resistência.
Bakiyev diz que está ansioso para realizar negociações que coloquem um fim à crise política, mas afirmou que não irá à capital para tais conversações. O governo interino "não pode assegurar a segurança de minha passagem para Bishkek", afirmou ele.
Quando perguntado nesta terça-feira se as autoridades pretendem estender as garantias ao filho e ao irmão de Bakiyev, o chefe de segurança do governo interino Keneshbek Duishebayev, negou-se a responder. Os dois são geralmente acusado de enriquecimento ilícito.
Otunbayeva indicou que a paciência do governo com Bakiyev está acabando. "Sua permanência no Quirguistão representa um problema para o futuro do país", disse ela à AP. "Está se tornando cada vez mais difícil garantir sua segurança, já que as pessoas exigem que ele seja levado à justiça."
Perguntada sobre para onde Bakiyev iria, ela disse que não sabia, mas lembrou que ele provavelmente gostaria de se juntar aos filhos, que atualmente estão na Letônia.
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