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Papa Bento XVI ao lado do presidente da comunidade judaica de Roma, Riccardo Pacifici, durante a primeira visita do pontífice à sinagoga da capital italiana | Alberto Pizzoli/AFP
Papa Bento XVI ao lado do presidente da comunidade judaica de Roma, Riccardo Pacifici, durante a primeira visita do pontífice à sinagoga da capital italiana| Foto: Alberto Pizzoli/AFP

Um líder judeu italiano disse ao papa Bento XVI neste domingo (17) que seu predecessor papa Pio XII deveria ter se manifestado com mais força contra o Holocausto para mostrar solidariedade aos judeus levados aos "fornos de Auschwitz".

Os comentários do presidente da comunidade judaica de Roma, Riccardo Pacifici, foram feitos durante a primeira visita do papa à sinagoga de Roma e estão entre os mais explícitos já feitos por um líder judeu em público a um papa.

"O silêncio de Pio XII antes do Shoah ainda machuca porque alguma coisa deveria ter sido feita", disse Pacifici ao papa, usando a palavra hebraica para o Holocausto.

"Talvez isso não tivesse impedido os trens da morte, mas teria mandado um sinal, uma palavra de extremo conforto, de solidariedade humana, para aqueles nossos irmãos transportados para os fornos de Auschwitz", disse ele.

A visita, a terceira de Bento XVI a um templo judaico desde que se tornou papa em 2005, dividiu a comunidade judaica italiana após ele ter dado continuidade ao processo de santificação de Pio XII no mês passado. Muitos judeus dizem que Pio, que foi papa de 1939 a 1958, não fez o suficiente para ajudar os judeus que enfrentavam a perseguição da Alemanha nazista.

Em seu discurso ao papa, Pacifici prestou homenagem aos católicos italianos, padres e freiras que viveram durante a guerra, e disse que seus esforços fazem o "silêncio" de Pio doer ainda mais.

O Vaticano mantém que Pio XII não se silenciou durante a guerra, mas que ele preferiu trabalhar nos bastidores, preocupado de que a intervenção pública pudesse piorar a situação tanto para os judeus quanto para os católicos na Europa em guerra.

Em resposta a Pacifici, Bento XVI defendeu as ações da Igreja Católica para ajudar os judeus durante a Segunda Guerra, dizendo que o Vaticano "agiu de maneira discreta e escondida".

"A própria Sé Apostólica forneceu assistência, muitas vezes de uma maneira escondida e discreta", disse Bento XVI em seu discurso na sinagoga.

Bento XVI foi recebido por líderes judeus internacionais e de Roma ao chegar na sinagoga às margens do rio Tibre, perto do Vaticano, para começar a visita de duas horas.

Antes de entrar no templo, líderes judeus mostraram ao papa uma placa lembrando a deportação de judeus romanos pelos alemães em 16 de outubro de 1943, e outra em homenagem a um menino de dois anos morto em um ataque armado na sinagoga em 1982.

A visita vem 24 anos após o papa João Paulo ter se tornado o primeiro papa em quase 2 mil anos a entrar em uma sinagoga e chamar os judeus de "nossos amados irmãos mais velhos".

Grupos judaicos reagiram com raiva no mês passado, quando Bento XVI, um alemão que participou da Juventude Hitlerista e do exército alemão enquanto adolescente durante a Segunda Guerra Mundial, aprovou um decreto reconhecendo as "virtudes heroicas" de Pio XII. Pelo menos um rabino e um sobrevivente do Holocausto boicotaram a visita.

Os dois passos remanescentes à santidade de Pio são a beatificação e a canonização, que podem levar muitos anos. Grupos judaicos querem que o processo seja congelado até que os arquivos do Vaticano sejam abertos a estudiosos.

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