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Duas referências latino-americanas: Dilma Rousseff cumprimenta a argentina Cristina Kirchner | Juan Mabromata/ AFP
Duas referências latino-americanas: Dilma Rousseff cumprimenta a argentina Cristina Kirchner| Foto: Juan Mabromata/ AFP

Intercâmbio com a vizinhança

O Mercosul e a Unasul são duas organizações de cooperação que se destacam na América do Sul e são espaços onde o Brasil pode exercer sua liderança e contribuir para a integração regional.

Na opinião do professor Rafael Villa, da USP, a Unasul tem atingido certo sucesso e "se conseguir se consolidar, é provavel que o Mercosul venha a se dissolver".

Já o professor Matias Spektor, da FGV, considera que o Brasil precisa liderar a a criação de um novo grupo, realmente forte, que atenda às necessidade atuais da América do Sul."O Mercosul foi desenhado em um contexto de equidade de forças muito diferente da realidade atual, tem a vida esgotada. A Unasul também é frágil".

Mercosul

O Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi criado em 26 de março de 1991, após Argentina, o Brasil, o Paraguai e o Uruguai terem assinado o Tratado de Assunção. Desde 2006, a Venezuela aguarda aprovação para integrar o grupo. Entre os principais objetivos estão a livre circulação de bens e serviços nas fronteiras dos países participantes, a adoção de uma política comercial comum e a coordenação de políticas macroeconômicas e setoriais

O atual secretário do Mercosul é o argentino Agustín Colombo Sierra.

Unasul

Com objetivo de promover articulação no âmbito cultural, social, econômico e político entre os 12 países da América do Sul, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) foi aprovada em em 23 de maio de 2008, em Brasília. A organização também se propõe a contribuir com soluções pacíficas para os conflitos regionais. O ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner, foi o primeiro Secretário-Geral da Unasul. Atualmente o cargo é ocupado por María Emma Mejía, ex-chanceler da Colômbia, que assumiu em março de 2011.

Fonte: Itamaraty.

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O crescimento do Brasil nos últimos anos colocou o país em sétimo lugar entre as maiores economias do mundo e agora levanta a questão sobre qual será o papel a ser desempenhado entre os vizinhos do continente.

O país se destaca na América do Sul por ocupar 47% do território e por ser o único onde a língua oficial é a portuguesa. O tamanho e a economia brasileiros acabam chamando atenção para as decisões diplomáticas e políticas adotadas pela nação, que ainda não se decidiu entre uma postura hegemônica ou de solidariedade regional.

O professor Rafael Pons Reis, do curso de Relações Interna­­cio­­nais do Centro Universitário Curitiba (Unicuritiba), diz que os diplomatas evitam usar a palavra hegemonia e se referem mais à "diplomacia da solidariedade", que o professor considera um eufemismo. "O Brasil tem conseguido desenvolver o soft power [poder brando] e tem conseguido seduzir os países da América do Sul", observa.

Em abril passado, a Câmara dos Deputados aprovou o acordo entre os governos brasileiro e pa­­raguaio que prevê um aumento de três vezes no valor que o Brasil paga pela energia excedente, gerada na usina hidrelétrica de Itaipu, que o Paraguai não utiliza. De acordo com estimativas baseadas nos custos de 2008, os valores pagos anualmente aumentariam de US$ 120 milhões para US$ 360 milhões.

A oposição brasileira protestou, mas o argumento do então presidente Lula, quando firmou o acordo com o presidente paraguaio Fernando Lugo, era de que para o Brasil é importante não ter um vizinho pobre e que é preciso combater a desigualdade regional.

Itaipu representa 20% do total das receitas do Paraguai.

Para o professor Reis, a diplomacia brasileira está utilizando uma estratégia de concessão para conquistar alianças. "Não há es­­paço para filantropia. O Brasil es­­tá aceitando algumas demandas contra o próprio país agora, para que, no médio e no longo prazo, possa contar com apoio dos vizinhos", diz.

A estratégia defendida por Matias Spektor, coordenador do Centro de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), do Rio de Janeiro, é que o Brasil não invista tanto em negociações bilaterais, mas em "contribuições que desenvolvam sociedades pu­­jantes e democráticas".

Spektor analisa que os vizinhos têm, cada vez mais. temido o crescimento brasileiro. Mas, na opinião dele, esses países precisam considerar que têm mais a ga­­nhar se apoiarem o Brasil como liderança. "Eles têm de entender que devem apoiar para que possam tirar vantagens e exigir do Brasil as demandas que se exige de um líder", diz.

Para Spektor, o Brasil tem in­­vestido em medidas que estimulam a simpatia dos vizinhos, mas ainda é tímido e precisa se dedicar à cooperação em diversas áreas – técnica, cultural e educacional, entre outras.

"É preciso trabalhar para que a ascensão seja sem atrito, desgaste ou oposição", diz.

Com opinião dissonante sobre a ideia de liderança regional, o professor Nildo Ouriques, do curso de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), contesta: "Esse negócio de liderança na América Latina é uma agenda de Washington, é um pa­­pel que a embaixada norte-americana quer que o Brasil exerça. Mas, na integração latino-americana, nenhum país vizinho vai aceitar a liderança de quem quer que seja. Ainda mais que Bolívia, Equador e Venezuela têm governos que prezam imensamente sua soberania".

A nacionalização das refinarias da Bolívia, em 2007, não é vista pelo professor da UFSC como estratégia do Brasil para agregar parceiros, mas "um ato soberano dos bolivianos".

A Petrobras possuía duas refinarias no país e, inicialmente, estipulou o preço de US$ 120 milhões para vendê-las ao governo da Bolívia. O valor fi­­nal acabou ficando em US$ 112 milhões, o que também despertou protestos da oposição no Brasil.

"O Brasil poderia cobrar mais, mas não deveria. A desigualdade é muito grande entre os dois países. O governo boliviano não pa­­gou tudo que deveria, mas os acordos não podem ser enxergados somente pela ótica econômica", diz o professor venezuelano Ra­­fael Villa, do curso de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (USP).

Dilma se alinha mais com Washington

A história política de Lula, o carisma e o jogo de cintura nas negociações internacionais fizeram dele um líder forte na Amé­­rica do Sul. Sua influência em­­balou a campanha do recém-eleito presidente do Peru, Ollan­­ta Hu­­mala, cujas propostas de campanha foram inspiradas no modelo de governo do ex-presidente brasileiro e até mesmo al­­guns dos assessores de campanha saíram do Brasil para auxiliar o peruano.

A proximidade de Lula com os chefes de estado de esquerda da América do Sul, como o venezuelano Hugo Chávez e o boliviano Evo Morales, representou mu­­danças na política do Brasil com os vizinhos, segundo o professor de Economia da UFSC, Nildo Ouriques. "Lula deu um passinho à esquerda em comparação com os governos anteriores. Mas os grandes projetos de integração latino-americana não estão sendo tocados", explica.

A avaliação de Ouriques, com base nos primeiros meses de gestão da nova presidente, é que as coisas estão mudando: "Dilma tem demonstrado um alinhamento maior com Washington".

O professor venezualano Ra­­fael Villa, da USP, recorda que, além dos interesses políticos, há os econômicos e que várias em­­presas brasileiras fazem investimentos na Venezuela. "Dilma di­­ficilmente vai ter o mesmo grau e aproximação ideológica e afetiva que Lula tinha, mas vai ser cordial", diz Villa.

Para Rafael Pons Reis, do Uni­­curitiba, a presidente vai cultivar menos proximidade com Chávez do que Lula, "mas vai manter a política de boa vizinhança".

Principal parceiro

O professor Matia Spektor, da FGV, considera que a Argentina é o vizinho com que há menos di­­ficuldade para negociar. Para ele, casos como a troca de restrições comerciais para importação de alguns produtos, que ocorreram nos últimos meses, não passam de "casos pontuais".

Reis prevê que as eleições argentinas também vão determinar como seguirão as negociações com os hermanos. "Se Cristina Kirchner for eleita, vai continuar havendo boas relações entre os dois países".

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