Barack Obama (à direita) participa de aperto de mão coletivo ao fim da reunião com os líderes da Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, em Cingapura| Foto: Mandel Ngan/AFP

São Paulo - A chance de o mundo chegar a um acordo ambicioso na Confe­­rência do Clima que será realizada dentro de três semanas em Cope­nhague foi descartada ontem por líderes dos países da região Ásia-Pacífico, incluindo Estados Uni­­dos, e pelo primeiro-ministro da Di­­na­­marca, Lars Lokke Rasmus­sen. Anfitrião do encontro do próximo mês, Rasmussen realizou ontem uma viagem não programada a Cingapura, para conclamar os governantes das 21 nações que compõem a Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec) a fecharem um acordo "possível" para Copenhague.

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O compromisso definitivo de reduções obrigatórias de emissões seria alcançado em outra conferência, na Cidade do México, que ainda não tem data marcada. "Mesmo que nós não consigamos definir todos os detalhes de um instrumento legalmente vinculante, acredito em um acordo político de caráter obrigatório, com compromissos específicos de mitigação e financiamento, dará bases sólidas para ação imediata nos próximos anos", declarou Ras­mussen, após um café da manhã com os líderes da Apec, entre os quais estavam Barack Obama e Hu Jintao, presidente da China. Esse documento político, que poderia ter de cinco a oito páginas, criaria mecanismos para o enfrentamento imediato do problema, "antes mesmo que uma nova estrutura legal seja acordada, assinada, ratificada e efetivada", observou Rasmussen.

A opinião dos governantes que se reuniram no fim de semana em Cingapura foi transmitida pelo vice-conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Mi­­ke Froman. "Os líderes avaliaram que seria irrealista esperar um amplo acordo internacional legalmente vinculante entre agora e o momento em que Copenhague começa, dentro de 22 dias", disse o norte-americano, segundo agências internacionais.

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Apesar de Froman se referir a 22 dias, as negociações começaram há dois anos, com o objetivo de construir um novo protocolo climático em substituição ao de Kyoto, que expira em 2012. A conferência de Copenhague será realizada entre 7 e 18 de dezembro e reunirá representantes de 192 países. "Não acredito que as conversas tenham progredido de maneira tal que cada um dos líderes acre­­ditasse que era provável a obtenção de um acordo final em Cope­­nhague, mas ainda assim existe a posição de que Copenhague será um importante passo, com impacto operacional", acrescentou Froman.

A disposição internacional – e especialmente dos EUA – de aprovar metas ambiciosas e obrigatórias de corte de emissões diminuiu depois da crise financeira internacional que explodiu em setembro de 2008. Os governos dos países ricos estão preocupados com a situação econômica e resistem a assumir compromissos que possam prejudicar a retomada do crescimento. Além disso, persiste a divisão entre nações desenvolvidas e em desenvolvimento sobre a responsabilidade pelo combate do aquecimento global. Os emergentes dizem que o problema foi causado pelas nações ricas, que devem agora arcar com a maior parte do ônus para sua solução. Essa foi a lógica que imperou em 1997 na assinatura do Protocolo de Kyoto, que traz metas obrigatórias de corte de emissões para os países ricos, mas não para os em desenvolvimento. Na época, os EUA eram os maiores emissores de gases que provocam efeito estufa e se recusaram a ratificar o acordo, sob o argumento de que nações emergentes como a China também deveriam ter compromissos obrigatórios de redução de poluentes.

Os países em desenvolvimento continuam com a mesma posição, mas concordam com metas não obrigatórias. Na sexta-feira, o Brasil anunciou a mais ousada proposta entre os países emergentes para redução de suas emissões, com previsão de corte de 36,1% a 38,9%. O porcentual seria aplicado sobre o que o país emitirá em 2020 se nada for feito para mitigar o problema. A redução seria "voluntária". No sábado, em documento conjunto, o presidente francês Nicolas Sarkozy e o seu colega brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva pediram que até 2050 os países industrializados reduzam as emissões de gases causadores do efeito estufa em pelo menos 80% ante os níveis da década de 1990. Ambos pediram que países emergentes busquem formas de crescimento com baixa emissão de carbono.

Ministros

Cerca de 40 ministros de meio-ambiente se reúnem em Copenhague hoje para tentar salvar um acordo para a Conferência do Clima, após líderes da cúpula da Ásia e do Pacífico se unirem em torno de um plano para legalmente adiarem um acerto para depois de 2009. Os ministros devem se reunir por dois dias em um hotel da capital dinamarquesa em busca das chances finais de dar fim ao antigo impasse entre países ricos e pobres.

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