Troca de comando acontecerá em 2012
Pequim - Uma assembleia composta pelos principais líderes do Partido Comunista chinês decidirá, no fim de 2012, quem vai governar a China pela próxima década. Embora ainda falte mais de um ano e meio para a troca de comando, o grupo vai herdar a liderança da segunda maior economia do mundo e sua composição atrai atenção desde já entre analistas baseados na Ásia.
Pequim - O Comitê Central do Partido Comunista da China se reúne a portas fechadas neste fim de semana para deliberar e tomar algumas decisões sobre os rumos econômicos e políticos do país. Nesse encontro anual devem ser feitos ajustes na política econômica chinesa e também pode haver uma sinalização mais forte sobre quem deve liderar o próximo governo a partir de 2013.
O professor de Relações Internacionais Henrique Altemani explica que a reunião anual do Comitê Central, formado por 300 líderes, é muito mais deliberativa do que decisória. "As grandes decisões ficam para depois", diz Altemani, referindo-se, por exemplo, à reunião política mais relevante do país, o Congresso do Partido Comunista, que acontece a cada cinco anos e cuja realização é esperada para 2012.
Um dos temas que devem encabeçar as discussões é a realização de ajustes na economia. "A liderança concorda que a China precisa ajustar sua economia, de uma tão dependente dos mercados de exportação para outra, mais ajustada ao mercado interno de consumo", diz, em entrevista por e-mail à Agência Estado, o professor William A. Joseph, da Universidade Wellesley, nos EUA.
Novo plano
A partir de 2011, a China passará a ser regida por um novo Plano Quinquenal. As linhas gerais desse plano serão apresentadas no encontro, a partir das propostas de vários ministérios e líderes provinciais delineadas durante vários dos últimos meses.
"Eu espero que o novo plano quinquenal seja mais um ajuste na atual estratégia que uma grande reformulação", prevê o cientista político dos EUA. A versão final do plano será oficialmente adotada pelo Congresso Nacional do Povo, o Parlamente chinês, em março de 2011.
Autor do livro Politics in China ("Política na China", Oxford University Press), o cientista político acredita que a valorização do yuan também pode ser um tema do encontro. "Mas questões políticas como essa são no final decididas pelos cerca de 25 principais líderes [o Politburo], e não por todo o Comitê Central."
Joseph acredita que o encontro dos próximos dias pode enviar sinais sobre os prováveis futuros líderes do país. O norte-americano acredita que o vice-presidente Xi Jinping já foi escolhido para ser "eleito" à presidência da China, que será oficializada no encontro do Parlamento em março de 2013. Agora, todos observam para saber se Xi será apontado, durante o encontro do Comitê Central, para um posto importante na Comissão Militar Central, o que seria interpretado como um sinal de ascensão nos quadros do regime.
O cientista político explica que há diferentes facções dentro da liderança. A do atual presidente, Hu Jintao, defende maior atenção a problemas como a desigualdade social, falhas no sistema de saúde e a poluição, enquanto a do vice Xi, favorece uma abordagem mais "tecnocrática", com a meta de garantir que a China continue crescendo em ritmo forte. Mas apesar das diferenças, Joseph não aposta na possibilidade de uma disputa de poder. "Uma coisa com que os líderes chineses concordam é em manter a estabilidade política, econômica e social."
Diversos analistas ouvidos pelo site de notícias financeiras MarketWatch acreditam que o próximo Plano Quinquenal (2011-2015) chinês representará o fim de uma era em que o país cresceu de modo explosivo, muitas vezes a taxas superiores a 10% ao ano. O foco agora deve ser a qualidade do crescimento, e não apenas a manutenção de um ritmo forte, apostam esses analistas.
O vice chairman da South China Brokerages, Howard Gorges, disse em entrevista ao MarketWatch que a China percebeu que um crescimento a taxas de 10% ao ano pode em alguns momentos gerar superaquecimento da economia e, consequentemente, desperdícios. Gorges afirma que é mais interessante agora para a China crescer na casa dos 8%. "A base [de comparação] está se tornando mais alta, então também ficará mais difícil crescer a 10%", observa.
Nobel
Sobre o recente Nobel da Paz concedido ao dissidente encarcerado Liu Xiaobo, Joseph acredita que o tema pode ser discutido, mas não abertamente para consumo público local ou internacional. Segundo ele, Pequim não quer, na verdade, chamar muito mais a atenção para essa questão.
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