Líderes europeus manifestaram nesta quarta-feira (25) sua preocupação com os "ventos do populismo" que ameaçam os pilares da integração comunitária, tais como a livre circulação de pessoas, em um momento em que a extrema-direita está no centro dos debates políticos na França e na Holanda.
"Infelizmente, os ventos do populismo ameaçam uma das grandes conquistas da integração europeia: a livre circulação de pessoas na União Europeia", lamentou o presidente da UE, Herman Van Rompuy, em sua conta do Twitter.
Van Rompuy expressou suas preocupações durante uma visita oficial à Romênia, cuja adesão ao acordo Schengen (de livre circulação) está bloqueada pelo governo holandês devido à pressão exercida pela formação de extrema-direita, o Partido da Liberdade (PVV) de Geert Wilders.
O PVV governa a Holanda em conjunto com o Partido Liberal, do primeiro-ministro Mark Rutte, desde junho de 2010. Mas a coalizão se desfez após o fracasso, no último sábado (21), das negociações sobre a redução do déficit público, de modo que eleições antecipadas devem ser realizadas. Rutte entregou o cargo na segunda-feira (23).
França
A ascensão da extrema-direita na Europa ficou bem evidenciada no domingo (23) durante o primeiro turno da eleição presidencial francesa, quando a líder da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, chegou em terceiro lugar com 17,9% dos votos, um resultado histórico.
O presidente francês e candidato à reeleição, Nicolas Sarkozy, que terminou em segundo, começou sua caça por este eleitorado para derrotar o socialista François Hollande no segundo turno, que acontece em 6 de maio.
"Os franceses já não querem brechas na Europa. É essa a mensagem que ouvimos", afirmou Sarkozy na segunda-feira. "Se a Europa não puder defender suas fronteiras, não será a França que o fará", disse. "A Europa que não tem controle sobre sua migração acabou", acrescentou durante um comício eleitoral.
O espaço Schengen permite às cidades de seus 26 países membros (22 países da UE mais a Islândia, Noruega, Suíça e Liechtenstein) circulação sem controle nas fronteiras. Cinco países da UE não aderem ao acordo: o Reino Unido, Irlanda, Chipre, Romênia e Bulgária.
França e Alemanha, em uma carta co-assinada pelo ministro do Interior francês, Claude Gueant, e pelo alemão Hans-Peter Friedrich, apelam para a possibilidade de restabelecer controles nas fronteiras nacionais durante um mês dentro da área Schengen.
Sobre essa carta, o ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwell, ressaltou em uma entrevista concedida ao semanário alemão Die Zeit que "é preciso ter cuidado para não enviar sinais errados".
"Para mim, a liberdade de viajar e me locomover na Europa não é negociável", acrescentou. "Nosso dever é proteger as fronteiras externas da Europa, de modo a tornar supérfluo qualquer medida nacional", concluiu o ministro liberal.
Gueant e Friedrich (CSU, braço bávaro dos conservadores alemães) têm a intenção de explicar sua posição aos seus homólogos europeus em uma reunião de ministros do Interior da UE prevista para 26 de abril, em Luxemburgo, de acordo com uma carta obtida pela AFP.
Mas Sarkozy reiterou seu desejo de convencer seus parceiros a aceitarem suas demandas, que já têm levantado muita polêmica entre alguns deles e podem provocar reações bastante negativas na quinta-feira em Luxemburgo.
A proposta franco-alemã sobre Schengen "fede", disse o ministro das Relações Exteriores de Luxemburgo, Jean Asselborn, em entrevista ao jornal alemão Der Spiegel.
"Os líderes da UE deveriam demonstrar liderança, em vez de tentar agradar a essas forças da extrema-direita", afirmou por sua vez, a comissária responsável pelos Assuntos Internos, Cecilia Malmström.
O pedido franco-alemão não é novo. O debate sobre a reforma de Schengen começou em março de 2011, por iniciativa da França. "A Comissão apresentou suas propostas, que foram anteriormente rejeitadas pelo governo francês", ressaltou o executivo de Bruxelas.
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