Líderes latino-americanos criticaram neste sábado as políticas dos países desenvolvidos para conter a imigração, classificando-as como discriminatórias e o reverso da colonização feita pelo Norte no Sul no passado.
Diante do olhar estupefato do rei Juan Carlos da Espanha, os presidentes que participam da 16a Reunião Ibero-americana em Montevidéu acusaram o antigo império de estar mais preocupado em deter o tráfico de pessoas sem documentos do que as drogas.
``Majestade, estamos preocupados porque na Europa há um aumento no consumo de drogas e, certamente, a droga que infelizmente é produzida na Colômbia vai para o mercado europeu'', disse o presidente colombiano, Alvaro Uribe, durante a sessão plenária.
Para Uribe, a Espanha deveria fechar as portas aos narcóticos e abri-las para a entrada de latino-americanos, que cada vez mais vêem restringidas as possibilidades de conseguirem documentos que garantam sua residência na Espanha e em outras nações européias.
A imigração ilegal tem sido o tema principal do encontro. Todos os participantes rechaçaram em uma resolução prévia as barreiras nas fronteiras e o tratamento como criminosos aos que tentam entrar em países sem os documentos necessários.
``Agora se criminaliza a imigração do sul para o norte, mas quando a imigração era do norte para o sul não havia muros, não havia deportações, agora... há muros, há deportações... essa é a situação que estamos vivendo'', afirmou o presidente da Bolívia, Evo Morales.
O ponto que tem causado maior incômodo na região é a decisão dos Estados Unidos de levantar um muro para bloquear parte de sua fronteira com o México.
A Venezuela, habitual adversário dos Estados Unidos, também verbalizou com dureza seus questionamentos das medidas de reforço da segurança e do bloqueio das fronteiras.
Apesar do presidente venezuelano, Hugo Chávez, ter decidido no último momento não comparecer ao encontro, seu chanceler se encarregou de disparar contra as políticas imigratórias norte-americana e européia.
``Nós temos que enfrentar a visão racista, discriminatória que querem impor os Estados Unidos e a Europa contra os povos da América Latina e o Caribe'', disse Nicolás Maduro.
Apesar da retórica, a condenação das medidas contra a imigração e, particularmente, à barreira entre México e Estados Unidos não parecem ter chances de se cristalizarem em uma resolução realmente dura.
O documento acordado na reunião de chanceleres previamente à reunião dos mandatários, e que será assinada pelos países participantes do encontro, apenas apresenta um tíbio pedido para que os Estados Unidos ``reconsiderem a construção do muro divisório na América''.