Autoridades de San Miguel del Ene, vilarejo na selva peruana que foi palco de um massacre no último domingo, 23, colocaram em dúvida a versão das Forças Armadas, que acusam o grupo Sendero Luminoso de ter perpetrado o ataque, em entrevista à Agência France-Presse.
"Eles (os militares) disseram de sua mesa ou de seu gabinete que (a autoria era de) Sendero, não posso determinar isso", disse Leonidas Casas, juiz de paz da cidade de San Miguel del Ene, cenário do massacre. "Até o momento não se pode determinar quem foi o autor do massacre, agora está nas mãos da polícia porque denunciei para as investigações", acrescentou por telefone.
O prefeito de Vizcatán del Ene, Alejandro Atao, também disse que prefere aguardar a conclusão das investigações. "As autoridades competentes determinarão com o tempo quem é o responsável", disse à Agência France-Presse.
Casas foi a primeira autoridade a chegar ao local do massacre na aldeia de cerca de mil habitantes, na madrugada de segunda-feira 24. Na noite de domingo, 23, 16 pessoas, incluindo quatro crianças, foram mortas em dois bares, onde estavam algumas prostitutas e homossexuais, num ataque classificado como "limpeza social" por autoridades e analistas.
San Miguel del Ene, no distrito de Vizcatán del Ene, faz parte do vale plantador de coca formado pelos rios Apurímac, Ene e Mantaro, conhecido pela sigla VRAEM, onde operam resquícios de Sendero, grupo que o governo descreve como terrorista. O VRAEM é uma zona militarizada há 15 anos e cenário regular de confrontos.
A ministra da Defesa do Peru, Nuria Esparch, garantiu na terça-feira, 25, que os perpetradores "são um remanescente narcoterrorista do autodenominado Partido Comunista Militarizado do Peru, que é uma facção remanescente do Sendero Luminoso".
O chefe da polícia antiterrorista, general Óscar Arriola, por sua vez, descartou que os autores sejam traficantes de drogas. "Estamos certos da autoria do Sendero Luminoso: duas pessoas diferentes identificaram o que consideramos ser o perpetrador e o comando militar que liderou esta coluna terrorista, que é o camarada 'Carlos' ou 'Darío'", disse Arriola à rádio local RPP. Colunas do Exército chegaram ao local nesta quarta-feira, 26, informou o jornal El Comercio.