Os incêndios na Amazônia brasileira ganharam repercussão internacional nos últimos dias e suscitaram a preocupação de políticos, celebridades, internautas. Mais evidente, porém, é a pressão dos líderes mundiais quanto à postura do governo Jair Bolsonaro em relação às queimadas. Apesar da alta temperatura do debate, os números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o Brasil registrou, até esta sexta-feira, 76.720 pontos de queimadas no ano. Uma parcial bem distante dos picos históricos registrados em 2004 (380 mil focos), 2005 (362 mil) e 2007 (393 mil), durante os governos Lula. Veja a repercussão.
França e a desculpa para se opor ao acordo Mercosul-UE
O presidente da França, Emmanuel Macron, acusou o presidente Jair Bolsonaro de "mentir" e não cumprir as demandas ambientais assumidas durante o encontro do G20 em Osaka, no Japão, em junho, por causa da reação do governo brasileiro aos incêndios na floresta amazônica. Com essa justificativa, Macron afirmou nesta sexta-feira (23) que a França se opõe ao acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, firmado poucos dias depois da reunião do G20.
Na quinta-feira, Macron já havia alfinetado o governo brasileiro ao escrever no Twitter que "nossa casa está queimando", em referência à Amazônia. “A floresta tropical da Amazônia – os pulmões que produzem 20% do oxigênio de nosso planeta – está queimando”. Para Macron, a Amazônia “em chamas” é uma crise internacional e solicitou que o pedido de emergência seja discutido durante o encontro das 7 economias mais desenvolvidas do mundo, o G7, que ocorre neste fim de semana.
Contudo, ao criticar o Brasil no Twitter, Macron utilizou um retrato da floresta amazônica em chamas feito por Loren McIntyre, fotógrafo norte-americano que morreu em maio de 2003. O presidente Jair Bolsonaro rebateu a crítica, dizendo que o comentário é colonialista e salientando a gafe do presidente francês.
Para Canadá, Brasil está colocando futuro do mundo em risco
O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, fez coro ao pedido do presidente da França para que os incêndios na Amazônia sejam debatidos durante o G7. Respondendo ao comentário de Macron no Twitter, Trudeau disse que "não poderia concordar mais" com o presidente francês. "Nós trabalhamos muito para proteger o ambiente no G7 no ano passado em Charlevoix, e precisamos que isso continue nesse fim de semana. Precisamos agir pela Amazônia e agir pelo nosso planeta –nossos filhos e netos contam conosco".
Alemanha fala em emergência grave
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, também disse estar convencida de que os incêndios na Amazônia brasileira devem ser debatidos no G7. Um porta-voz de Merkel disse que a chanceler considera os incêndios uma "emergência grave". "A magnitude dos incêndios é preocupante e ameaça não só o Brasil e os outros países afetados, mas também o mundo inteiro", disse Steffen Seibert, representante de Merkel, nesta sexta-feira (23). O Brasil, porém, não participará deste encontro, que tem como convidados líderes de outros países, como Egito e Índia.
Além disso, o Brasil esteve em evidência na imprensa alemã nas últimas semanas, após a suspensão de repasses da Alemanha para projetos de proteção ambiental no Brasil. Publicações alemãs falam sobre meios de pressionar o governo brasileiro a conservar as florestas, incluindo por meio de sanções.
Irlanda também ameaça acordo com Mercosul
O primeiro-ministro da irlanda, Leo Varadkar, disse que seu país tentará bloquear o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, firmado em junho, se o Brasil não tomar medidas para conter os incêndios florestais na Amazônia. "A Irlanda não irá votar a favor do acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil não honrar os seus compromissos ambientais", garantiu ele nesta quinta-feira (22). Varadkar classificou ainda de "orwelliana" (totalitária) a tentativa do presidente brasileiro Jair Bolsonaro de culpar as organizações ambientais pelos incêndios.
Contudo, é preciso lembrar que o governo irlandês e francês estão sendo pressionados em casa para proteger seus produtores de alimentos, que veem o pacto com os países sul-americanos como uma ameaça.
Finlândia pede à UE banir carne brasileira
A Finlândia pediu que a União Europeia considere a possibilidade de banir a importação de carne brasileira devido a devastação causada pelos incêndios na floresta amazônica. "O ministro das Finanças, Mika Lintilä, condena a destruição das florestas tropicais da Amazônia e sugere que a UE e a Finlândia deveriam rever com urgência a possibilidade de proibir as importações brasileiras de carne bovina", disse o Ministério das Finanças da Finlândia em um comunicado divulgado nesta sexta-feira (23).
"Estamos trabalhando [na UE] para enfrentar as mudanças climáticas da maneira mais eficaz possível. Os ministros da Fazenda são responsáveis por diversos instrumentos, tais como a precificação do carvão, planejamento fiscal e investimento público e gestão de aquisições, para mitigar as mudanças climáticas. Essas ações ameaçam se tornar inúteis se os escoadouros de carbono forem sistematicamente destruídos em outros lugares e não teremos os meios para reagir aos efeitos devastadores da mudança climática", disse o ministro Lintilä.
Venezuela de Maduro oferece ajuda
O regime de Nicolás Maduro, na Venezuela, expressou solidariedade e ofereceu ajuda ao Brasil para acabar com os incêndios na Amazônia. Uma nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores também fala dos incêndios que estão ocorrendo na Bolívia, Paraguai e Peru.
"No marco da irmandade latino-americana, e como integrante da comunidade amazônica, a Venezuela oferece a modesta ajuda que pode brindar para mitigar esta tragédia dolorosa, com caráter imediato", diz o comunicado. O regime expressou preocupação em especial com as comunidades campesinas e indígenas e fez um chamado à consciência dos "atores econômicos e institucionais" envolvidos.
Também há preocupação no Reino Unido
Um porta-voz do primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, disse nesta sexta-feira que o país está preocupado com os incêndios na floresta amazônica e com o "impacto de trágicas perdas nesse habitat". Segundo ele, durante o encontro do G7, Johnson vai defender que é preciso renovar o foco na proteção da natureza.
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