Iêmen
Ditador retorna e decreta anistia aos que "cometeram loucuras"
O ditador do Iêmen, Ali Abdullah Saleh, retornou ontem à capital Sanaa e decretou anistia para aqueles que cometeram "loucuras durante a crise" mas excluiu os envolvidos em crimes e no atentado contra o palácio presidencial em junho, que feriu o próprio ditador.
Sua volta ao Iêmen acontece um dia depois da publicação de um decreto convocando eleições presidenciais antecipadas para 21 de fevereiro de 2012, indo de acordo com o documento assinado na Arábia Saudita por Saleh e pela oposição. A eleição presidencial estava prevista inicialmente para 2013.
Ainda ontem, como parte do acordo mediado pelo Conselho de Cooperação do Golfo para a saída de Saleh firmado na semana passada , o vice-presidente iemenita, Abed Rabbo Mansour Hadi, delegou ao chefe do Conselho Nacional Opositor, Mohamed Basandawa, a formação de um governo de reconciliação nacional para pôr fim aos protestos que afetam o país há dez meses.
Entre as tarefas do gabinete estão os enfrentamentos entre o Exército, as milícias tribais e os militares desertores, e o diálogo com a oposição.
Saldo da revolta
Em 11 meses de Primavera Árabe, três ditadores caíram e outros quatro ainda vacilam no poder.
Já caíram
-> Ben Ali: ex-ditador da Tunísia, foi o primeiro a cair, em janeiro. Novas eleições estão marcadas para o ano que vem.
-> Hosni Mubarak: deposto em fevereiro, o líder egípcio foi substituído por uma junta militar, que sofre pressão devido à lentidão das reformas.
-> Muamar Kadafi: morto em outubro, o ex-líder da Líbia deu lugar ao Conselho Nacional de Transição, que promete para 2012 eleger uma nova assembleia constituinte.
No poder
-> Abdullah II: o rei da Jordânia é pressionado pela população desde janeiro. Em resposta, realizou uma série de reformas em setembro.
-> Hamad Al Khalifa: o rei sunita que lidera o Bahrein também é alvo de protestos, que se inspiraram nos países da região. Condenou opositores xiitas ao regime em outubro.
-> Ali Ahbdullah Saleh: o ditador do Iêmen assinou em novembro um acordo que prevê a transferência do poder. Não há garantias, porém, de que ele deixe o cargo.
-> Bashar Assad: o líder sírio segue no poder apesar das manifestações, que são reprimidas pelo governo. ONU estima que o conflito tenha deixado 3,5 mil mortos.
Em uma decisão histórica, a Liga Árabe aprovou ontem sanções econômicas contra a Síria, que incluem a suspensão de todas as transações financeiras e comerciais com o governo de Bashar Assad e o congelamento dos bens do regime e de autoridades.
O texto aprovado pede, inclusive, que o Conselho de Segurança das Nações Unidas adote postura semelhante. Segundo o governo do Catar, que ocupa a presidência rotativa da organização, as medidas restritivas passam a valer "imediatamente".
As sanções foram aprovadas por 19 dos 22 membros da Liga Árabe. O anúncio foi feito pelo primeiro-ministro do Catar, Hamad bin Jassim Thani, após a votação. Segundo ele, caso as medidas falhem em conter a crise no país, as forças de outras nações estrangeiras poderiam ter que intervir na Síria.
A declaração mostra uma mudança de posição, uma vez que Thani havia dito anteriormente que a Liga queria evitar de qualquer maneira um episódio semelhante ao que ocorreu na Líbia, onde uma resolução do Conselho de Segurança da ONU permitiu a intervenção da Otan, a aliança militar do Ocidente, com ataques aéreos.
Essa é a primeira vez que o bloco árabe, criado em 1945, aprova sanções contra um de seus países. Os países que as aprovaram incluem Tunísia e Iêmen, até então reticentes a um endurecimento contra Damasco.
No entanto, Iraque e Líbano, os vizinhos que, com a Jordânia, somam o maior fluxo de comércio da Síria com o mundo árabe, não votaram a favor e deram sinais de que podem não cumprir as sanções do bloco. O Iraque se absteve, e o Líbano "dissociou-se" da votação.
O comércio da Síria com o mundo árabe representa 50% das transações externas de Damasco. O país já enfrenta sanções dos Estados Unidos e da União Europeia.
A decisão foi tomada após Damasco não responder a dois ultimatos para que aceitasse o envio de uma missão de observadores ao país e parasse com a violenta repressão, que, segundo a ONU, já matou cerca de 3,5 mil civis.
Medidas
Entre as outras medidas que serão aplicadas está prevista a suspensão das transações dos países árabes com o banco central e com o estatal Banco Comercial da Síria, além de voos de companhias árabes para o país. Também foi estipulado que os governos árabes vão cessar o financiamento de projetos na Síria.
Ainda é preciso definir que indivíduos ligados ao governo serão alvos de sanções, como congelamento de bens e proibição de viajar para os países árabes. Isso só será anunciado no próximo sábado.
"A posição do povo, a posição árabe é que devemos acabar com essa situação urgentemente", disse o chanceler do Qatar, Hamad bin Jassem. "Já faz quase um ano que o povo sírio tem sido assassinado", ressaltou.
Ontem mesmo, mais 32 pessoas foram mortas pelas forças de segurança sírias, segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos. A maioria das mortes ocorreu próximo a Homs.
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