Lisboa (EFE) — Os sinos das igrejas de Lisboa soaram por 10 minutos, ontem, a partir das 7h30 (horário de Brasília), quase a mesma hora em que vários terremotos, incêndios e tsunamis deixaram milhares de mortos, grande destruição e mudaram a história da capital portuguesa em 1755. Enquanto toda a cidade iniciava um variado programa de atividades lembrando a tragédia, muitos lisboetas souberam que, 250 anos depois da catástrofe, sua cidade precisa de um mapa de risco sísmico e está mal preparada diante de uma situação similar. No fim da tarde, o "Requiem" de Mozart podia ser ouvido entre as seculares paredes do Mosteiro dos Jerônimos em memória das milhares de vítimas.

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Quando o cardeal patriarca de Lisboa, José Policarpo, começou a celebrar a missa entre as ruínas do Convento do Carmo, vestígio do terremoto, na mesma hora em que a terra começou a tremer no Dia de Todos os Santos de 1755, muitos cidadãos liam nos jornais que um sismo similar hoje deixaria mais de 5 mil vítimas.

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Cálculos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil indicam que mais de 75% das casas de Lisboa sofreriam graves danos: cerca de 2.400 cairiam e 10 mil ficariam praticamente sem utilidade. Os prejuízos materiais com um terremoto semelhante ao de dois séculos e meio atrás ultrapassariam os 2 bilhões de euros, o que equivale a 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB) português de 2001.

As regiões mais afetadas seriam as próximas ao leito do Rio Tejo e as que estão sobre sedimentos arrastados por ele, como a Baixa, que em 1755 praticamente desapareceu pelos efeitos do terremoto, tendo de ser reconstruída. O geólogo português António Ribeiro ressaltou a falta de investimento para realizar estudos sísmicos em Portugal e mostrou preocupação com a imprevisibilidade desse tipo de fenômeno.

O terremoto de 1755, com três tremores principais de cerca de 10 minutos, chegou a 9,5 graus na escala Richter, segundo cálculos científicos recentes. A tragédia deixou entre 10 mil e 90 mil mortos, de acordo com diferentes cálculos, não só pelos tremores telúricos, mas pelos incêndios e tsunamis que aconteceram em seguida.

De hoje até 2006, mais de 60 iniciativas vão lembrar aquela catástrofe, considerada a primeira de grande magnitude na história moderna da Europa O presidente português, Jorge Sampaio, inaugurou ontem uma conferência de peritos internacionais que discutirão até amanhã os efeitos do terremoto no Centro Cultural de Belém.

O programa comemorativo também inclui apresentação de livros sobre o terremoto, emissão de selos comemorativos, debates, colóquios, exposições, visitas guiadas e oficinas para crianças, colégios e famílias. Para o dia 5 de novembro está prevista a reabertura da Basílica dos Mártires, um "ex-libris" da restauração da Lisboa arrasada, promovida pelo Marquês de Pombal, primeiro-ministro da época, e no ato será apresentada em concerto uma obra inédita de José João Baldi, compositor português do século 18.

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