Nas últimas décadas, o mundo tem acompanhado a delicada relação entre israelenses e palestinos, em suas incontáveis idas e vindas na busca pela paz. Um livro recém-lançado traz um abrangente relato sobre essa questão, com um bom equilíbrio entre o material informativo e as análises.
Trata-se de Miragem de Paz: Israel e Palestina Processos e Retrocessos. A autora da obra é Guila Flint, jornalista brasileira que trabalha no Oriente Médio desde 1995, a maior parte desse período para a BBC Brasil. O volume reúne reportagens, artigos e entrevistas de 1995 e 2009, publicados por ela em vários meios de comunicação do país, em diferentes suportes.
O ponto de partida da obra é o assassinato do primeiro-ministro Itzhak Rabin, cometido por um extremista judeu de direita em 1995. O crime acabou se mostrando tristemente crucial, pois o Nobel da Paz havia firmado os Acordos de Oslo, em 1993, com o então presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat. Rabin, nota o historiador Ron Pundak em entrevista também presente no livro. Ele tinha "a autoridade moral para convencer o público israelense e conduzi-lo para a paz".
Posteriormente, alternaram-se as lideranças, mas os problemas e a desconfiança só cresceram. Até hoje, os palestinos não conseguiram seu Estado independente e enfrentam muitas privações, e os israelenses seguem sem segurança, temendo ataques de extremistas.
Ao lermos os textos que compõem a obra, podemos acompanhar, cronologicamente, a ascensão de novos líderes, as iniciativas pela paz, seus avanços e, sobretudo, os retrocessos. Mas talvez o elemento mais poderoso do livro esteja nos relatos sobre as "pessoas comuns", afetadas por um conflito quase ininterrupto, em que cada pequena vitória é acompanhada por incontáveis revezes.
Os problemas psicológicos causados pelos mísseis de militantes palestinos no território israelense; a rotina de privações dos palestinos isolados pelos muros de Israel; os agricultores separados de suas terras, também pelos muros israelenses; o "clima de prisão" na isolada Faixa de Gaza, e o consequente aumento da criminalidade. A lista de "vítimas colaterais" da guerra é imensa.Complexidade
"Quem pensa que entende de Oriente Médio está muito mal informado." A frase, do jornalista Sílio Boccanera, é citada por Alberto Gaspar, outro profissional do ramo, que assina a orelha do livro. Gaspar nota, porém, que o volume de Guila Flint pode ajudar bastante os interessados em desemaranhar esse novelo.
Serviço: Miragem de Paz: Israel e Palestina Processos e Retrocessos, de Guila Flint. Civilização Brasileira, 518 págs., R$ 69,90.