As Vinhas da Ira, do escritor norte-americano John Steinbeck, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1962, foi tachado de vulgar e pornográfico, um perigoso retrato do ódio de classe. I Know Why the Caged Bird Sings foi retirado das salas de aula e das bibliotecas após sua publicação, em 1969, considerado inapropriado por descrever o estupro sofrido pela autora, Maya Angelou, quando era uma menina de oito anos.Depois houve Matadouro 5, cujas obscenidades, violência e falta de patriotismo na Segunda Guerra Mundial geraram a ira de pais e bibliotecários. O livro é uma obra prima do norte-americano Kurt Vonnegut.Antes silenciados, os livros estavam no início de outubro entre os mais de dez lidos, como parte de uma série de eventos marcando a Semana dos Livros Banidos. A celebração anual é organizada pela Associação de Bibliotecas Americanas (ALA, na sigla em inglês).Emprestando suas vozes literalmente à causa, 13 escritores de Vermont, entre eles Ron Powers, David Macaulay e Tom Bodett, uniram-se em uma igreja de uma cidade pequena e leram passagens para uma atenta plateia.
"É uma chance de certo modo de viver uma das minhas fantasias, que é fazer um livro que se torna proibido", afirmou Macaulay, de 62 anos, o autor de The Way Things Work. "Nada me deixaria mais feliz."
Longa data
A censura na literatura não começou nem terminou com O Amante de Lady Chatterley, do britânico D. H. Lawrence, em 1928.
Banir livros ou censurar autores é uma prática comum desde o início do processo de impressão e mesmo anterior, e continua hoje com ameaças a títulos como O Caçador de Pipas, And Tango Makes Three (história de dois pinguins machos que criam um filhote) e até à série do bruxinho Harry Potter.
Por esse fato, a associação de bibliotecas, unida a escritores, bibliotecas e grupos de direitos civis por todos os Estados Unidos, realiza o evento anual iniciado em 1982.
"Nós estamos certamente notando crescentes esforços para retirar ou restringir livros destinados a jovens adultos", diz Deborah Caldwell-Stone, vice-diretora do escritório para liberdade de imprensa da associação. "Há pais que acreditam que os jovens com menos de 18 anos não deveriam ter acesso a livros que discutem sexo ou o consumo de drogas, ou homossexualidade, e nós entendemos isso", nota.
"Mas o fato de que eles tenham essas escolhas e valores não deveria significar que outras famílias e jovens não poderão ter acesso a essas ideias", continua Deborah. "Um pai pode optar por escolhas diferentes para o filho, mas suas escolhas não deveriam significar a proibição do acesso a um título para o resto da comunidade."
Em Chicago, a semana foi marcada por um evento de 26 de setembro no qual autores famosos leram seus livros, que chegaram a ser banidos ou ameaçados em alguns locais. Entre os participantes estão Justin Richardson e Peter Parnell, cujo And Tango Makes Three foi, segundo a ALA, o livro mais contestado de 2008.
Em Denver, a livraria Printed Page Bookshop exibiu 60 volumes banidos e um que não foi censurado, desafiando os clientes a adivinharem qual passou incólume. Em Sedalia, Missouri, a Sedalia Book and Toy planejou uma vitrine para marcar a Semana dos Livros Banidos, além de distribuir desenhos em camisetas e outras lembranças alusivas ao fato.
No evento em Vermont, aproximadamente 120 pessoas foram até a Igreja da Congregação de Norwich em uma noite chuvosa para ouvir Ron Powers, ganhador do prêmio Pulitzer, o poeta Galway Kinnell e outros lendo livros antes proibidos. O grupo aplaudiu de pé a iniciativa ao fim das duas horas de evento.
"Isso não é algo acadêmico, de muitos anos atrás e que não ocorre mais", diz Allen Gilbert, diretor executivo da seção de Vermont da American Civil Liberties Union, copatrocinadora das leituras. "Ameaças a livros ocorrem a todo momento."