O ato de rezar num platô de 150 mil metros quadrados pouco maior do que o Maracanã no centro da Cidade Velha de Jerusalém pode atiçar o já inflamável conflito entre judeus e árabes no Oriente Médio.
Grupos de israelenses ultranacionalistas demandam cada vez mais o direito de orar no local que chamam de Monte do Templo, onde, há dois mil anos, ficava o Templo de Herodes, destruído no ano 70, e antes dele, o famoso Templo de Salomão. Parte da parede de contenção desse monte é o famoso Muro das Lamentações, tradicional local de oração para os judeus por ser o ponto mais próximo do templo com acesso livre e visitado por mais de 3,5 milhões de turistas estrangeiros anualmente.
Mas, para os muçulmanos, o lugar se chama Esplanada das Mesquitas, ponto que perde em importância religiosa apenas para Meca e Medina, na Arábia Saudita. É lá que ficam as mesquitas de al-Aqsa e de Omar, a do famoso domo dourado que colore os cartões postais de Jerusalém.
Não parece haver um lugar mais sensível na disputa territorial e religiosa entre judeus e árabes na Terra Santa. Afinal, é nesse ponto do planeta que passagens-chave de livros sagrados como a Bíblia e o Alcorão aconteceram, como o sacrifício de Isaac por Abraão e a subida aos céus do Profeta Maomé. As questões em torno do local são tão delicadas que o moderno Estado de Israel que controla os lados ocidental e oriental de Jerusalém desde 1967 prefere não se intrometer e manter os jordanianos como zeladores dos sítios religiosos muçulmanos de Jerusalém, incluindo a Esplanada das Mesquitas.
Atualmente, a entrada de turistas não muçulmanos incluindo judeus na Esplanada é permitida, mas eles não podem rezar por lá. Nos últimos tempos, no entanto, centenas de judeus religiosos têm visitado o local para orar, em hebraico. Fazem parte de grupos como a Central das Organizações do Templo (que diz reunir 27 ONGs judaicas em prol das orações no Monte do Templo). Eles sussurram bênçãos e recitam partes da Bíblia às vezes fingindo que estão falando no celular antes de serem expulsos por policiais. Muitas vezes, causam tensão com os muçulmanos que frequentam a Esplanada.
Essa minoria é rejeitada pela maior parte dos israelenses, seculares ou religiosos "light", que entendem a delicadeza da situação e costumam visitar apenas o Muro das Lamentações. Mas os ultranacionalistas começam a encontrar apoio entre políticos de partidos de extrema-direita que fazem parte do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.