Tensão
Muçulmanos temem a destruição de mesquitas; Israel nega esse rumor
Líderes muçulmanos temem que a nova onda de visitas de judeus religiosos leve, no final das contas, à decisão de Israel de destruir as mesquitas sagradas para a construção de um novo templo judaico, aspiração religiosa dos mais devotos. Apesar de o governo negar constantemente essa possibilidade (rejeitada pela maioria dos israelenses), a tensão é palpável.
"Esse local é um símbolo para 1,2 bilhão de muçulmanos. Pertence a nós. Ninguém mais tem o direito de rezar aqui. Se eles tentarem destruir as mesquitas, será o fim dos tempos", diz, apocalíptico, o xeque Azzam al-Khatib, diretor da Waqf, o órgão jordaniano que administra a Esplanada das Mesquitas.
No dia 30 de novembro, o Alto Comitê Religioso Muçulmano realizou uma reunião de emergência na qual condenou "a tentativa de Israel de dividir a Mesquita de al-Aqsa por critério de tempo entre muçulmanos e judeus". Segundo o comitê, Israel planeja no final das contas invadir a mesquita sagrada. "O contínuo ataque aos lugares sagrados palestinos, principalmente a Mesquita de al-Aqsa, transformará a região numa bomba-relógio que levará em breve a uma guerra religiosa", concluiu o Alto Comitê.
Proibido
O medo dos muçulmanos quanto às intenções de Israel na Esplanada das Mesquitas, um dos locais mais importantes da cidade sagrada de Jerusalém, não parece diminuir nem mesmo quando os rabinos-chefes do país proíbem categoricamente que judeus orem no Monte do Tempo.
Pecado
Além da questão geopolítica, os rabinos são contra a oração no local porque ninguém sabe onde exatamente ficava o "Santo dos Santos", a sala mais sagrada do Tempo de Salomão onde acreditava-se que o próprio Deus habitava. Pisar lá seria um pecado mortal.
Rabinos
A proibição emitida pela primeira depois da Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando Israel passou a controlar a Cidade Velha de Jerusalém foi ratificada no último dia 2 de dezembro pelos novos rabinos-chefes, o ashkenazi David Lau e o sefaradita Yitzhak Yossef.
O ato de rezar num platô de 150 mil metros quadrados pouco maior do que o Maracanã no centro da Cidade Velha de Jerusalém pode atiçar o já inflamável conflito entre judeus e árabes no Oriente Médio.
Grupos de israelenses ultranacionalistas demandam cada vez mais o direito de orar no local que chamam de Monte do Templo, onde, há dois mil anos, ficava o Templo de Herodes, destruído no ano 70, e antes dele, o famoso Templo de Salomão. Parte da parede de contenção desse monte é o famoso Muro das Lamentações, tradicional local de oração para os judeus por ser o ponto mais próximo do templo com acesso livre e visitado por mais de 3,5 milhões de turistas estrangeiros anualmente.
Mas, para os muçulmanos, o lugar se chama Esplanada das Mesquitas, ponto que perde em importância religiosa apenas para Meca e Medina, na Arábia Saudita. É lá que ficam as mesquitas de al-Aqsa e de Omar, a do famoso domo dourado que colore os cartões postais de Jerusalém.
Não parece haver um lugar mais sensível na disputa territorial e religiosa entre judeus e árabes na Terra Santa. Afinal, é nesse ponto do planeta que passagens-chave de livros sagrados como a Bíblia e o Alcorão aconteceram, como o sacrifício de Isaac por Abraão e a subida aos céus do Profeta Maomé. As questões em torno do local são tão delicadas que o moderno Estado de Israel que controla os lados ocidental e oriental de Jerusalém desde 1967 prefere não se intrometer e manter os jordanianos como zeladores dos sítios religiosos muçulmanos de Jerusalém, incluindo a Esplanada das Mesquitas.
Atualmente, a entrada de turistas não muçulmanos incluindo judeus na Esplanada é permitida, mas eles não podem rezar por lá. Nos últimos tempos, no entanto, centenas de judeus religiosos têm visitado o local para orar, em hebraico. Fazem parte de grupos como a Central das Organizações do Templo (que diz reunir 27 ONGs judaicas em prol das orações no Monte do Templo). Eles sussurram bênçãos e recitam partes da Bíblia às vezes fingindo que estão falando no celular antes de serem expulsos por policiais. Muitas vezes, causam tensão com os muçulmanos que frequentam a Esplanada.
Essa minoria é rejeitada pela maior parte dos israelenses, seculares ou religiosos "light", que entendem a delicadeza da situação e costumam visitar apenas o Muro das Lamentações. Mas os ultranacionalistas começam a encontrar apoio entre políticos de partidos de extrema-direita que fazem parte do governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.