O Departamento de Censo e Estatística de Hong Kong divulgou na semana passada que o território autônomo teve o maior declínio no número de habitantes desde que a contagem da população começou a ser feita na região, em 1961.
De acordo com o departamento, entre o meio de 2021 e meados de 2022, a população total de Hong Kong passou de 7,41 milhões de pessoas para 7,29 milhões, redução de 1,6%.
As autoridades da região autônoma falam numa diminuição “natural” devido ao envelhecimento da população e ao número de mortes superando o de nascimentos, mas especialistas atribuem a queda acentuada aos rígidos lockdowns contra a Covid-19 e à repressão desde os protestos pró-democracia ocorridos entre 2019 e 2020.
As estatísticas do Departamento de Censo e Estatística de Hong Kong mostram que cerca de 113,2 mil habitantes deixaram a região em um ano, enquanto no mesmo período anterior 89,2 mil haviam saído.
Depois dos protestos por democracia, uma Lei de Segurança Nacional imposta pela China foi implantada no território em junho de 2020 e tem sido a base para prisões e processos judiciais contra ativistas, dissidentes políticos e jornalistas locais.
Além disso, ocorreram “reformas eleitorais” que, conforme apontado pela organização Human Rights Watch, “transformaram as instituições quase democráticas de Hong Kong em órgãos de mera formalidade”, já que agora apenas os leais ao Partido Comunista Chinês podem ocupar cadeiras no Legislativo local.
O governo de Hong Kong admitiu parcialmente que a redução populacional pelo segundo ano seguido foi influenciada pelos lockdowns contra a Covid, ao apontar que estes dificultaram a entrada de novos trabalhadores no território, mas não citou os efeitos da repressão ao movimento pró-democracia.
Essa perseguição gerou um êxodo de manifestantes, jornalistas e parlamentares, como o ex-deputado Fernando Cheung, que em maio deste ano se mudou para o Canadá poucos meses depois de ter cumprido três semanas de prisão por “desacato” devido a um protesto que realizou com outros parlamentares no Legislativo de Hong Kong em maio de 2020.
Essas perdas populacionais podem comprometer seriamente o futuro da economia local: Paul Yip, especialista em população da Universidade de Hong Kong, disse à emissora estatal RTHK que muitos dos que estão deixando o território são casais jovens e recém-formados que representam uma “parte muito crítica” da força de trabalho.
“A intensidade desse fluxo tem aumentado nos últimos dois anos”, disse Yip, que alertou que o fenômeno “pode ter um impacto no desenvolvimento econômico de Hong Kong”.
No início de agosto, antes da divulgação dos números do Censo, a Câmara Geral de Comércio de Hong Kong havia revisto sua previsão para o desempenho econômico da região em 2022: agora, o órgão estima que a economia sofrerá retração de 0,5%, enquanto em fevereiro havia previsto uma alta de 1,2%.
O comunicado destacou que “mais de dois anos e meio de restrições a respeito da Covid-19 estão afetando fortemente as empresas e a economia, [dificuldades] exacerbadas pelos gargalos contínuos da cadeia de suprimentos e pela guerra na Ucrânia”.
“O contínuo fechamento da fronteira entre Hong Kong e a China Continental, bem como com o resto do mundo, está impedindo decisões de investimento e sufocando qualquer perspectiva de recuperação econômica. Precisamos de um cronograma concreto para reabrir Hong Kong para garantir que possamos continuar atraindo talentos para a cidade e empresas para investir aqui”, alertou o CEO da Câmara, George Leung.
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