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Jacinda Ardern
Jacinda Ardern, premiê da Nova Zelândia, em visita à Espanha em junho de 2022.| Foto: EFE/Juan Carlos Hidalgo

A China não foi o único país que restringiu a circulação de pessoas e a abertura comercial devido à Covid-19 por um período muito acima da média mundial. Com uma das regulamentações mais draconianas, a política da primeira-ministra Jacinda Ardern, na Nova Zelândia, resultou, assim como na de Xi Jinping, em um atraso no desenvolvimento da doença, que não deixou, no entanto de acontecer.

Nesta semana, Ardern anunciou sua renúncia, por “não ter mais energia” para o cargo. A política sanitária durante a pandemia é um dos principais legados da líder do país, que está no poder desde 2017, que compõe o Parlamento desde 2008 e também lidera o Partido Trabalhista.

Ovacionada nos primeiros anos de pandemia pelos baixos números de mortes e tendo zerado a transmissão do vírus no país, a Nova Zelândia sofreu fortemente o impacto da reabertura.

Com o relaxamento das medidas em julho de 2022, a Nova Zelândia registrou o maior número de mortes no mundo pela Covid-19. No final de julho do ano passado, 836 pessoas estavam hospitalizadas pela doença no país — um aumento de mais de 50% em relação ao mês anterior. Alguns hospitais operaram com capacidade máxima.

O país chegou a liderar, na época, o ranking de mortes por Covid no mundo: eram 4,37 mortes por milhão de habitantes, um número quatro vezes maior do que o registrado no Brasil e o triplo dos EUA no mesmo período.

As restrições 

Enquanto o mundo fazia uma reabertura cuidadosa havia mais de um ano, em fevereiro do ano passado, Ardern revelou um plano para restaurar o relacionamento da Nova Zelândia com o resto do planeta e declarou que as fronteiras só seriam abertas oito meses depois.

Durante grande parte da pandemia, todas as pessoas que chegavam do exterior tiveram que passar por uma quarentena de duas semanas em hotéis administrados pelo governo e protegidos por militares.

Centros de isolamento e hotéis para a quarentena obrigatória ficaram superlotados. Milhares de pessoas não conseguiram um assento e o sistema de reservas foi baseado em sorteio.

Mesmo assim, a rígida estratégia contra a Covid foi amplamente apoiada pela população, especialmente porque a Nova Zelândia foi um dos países menos atingidos pela crise da saúde nos primeiros meses de pandemia.

No entanto, um grupo chamado Grounded Kiwis passou a declarar que neozelandeses residentes no exterior foram privados de seus direitos quando essas regras entraram em vigor. Entre os exemplos apresentados pelo grupo à justiça do país, estava o caso de uma mulher presa no exterior e impedida de voltar para casa para enterrar seu único filho. Outra não pôde estar presente enquanto seu filho estava em tratamento contra o câncer.

Esses e outros casos em que não foram consideradas as circunstâncias individuais levaram a juíza da Suprema Corte do país Jillian Mallon a declarar que o governo havia agido “de forma ilegal, irracional e em violação da Declaração de Direitos, que afirma que todo cidadão da Nova Zelândia tem o direito de entrar na Nova Zelândia".

Lockdown tem pouco efeito sobre os óbitos

Uma reportagem de Eli Vieira na Gazeta do Povo analisa estudos sobre a eficiência das políticas de lockdown.  O economista Christian Bjørnskov, da Universidade Aarhus, na Dinamarca, usou métodos padronizados de econometria empregados na ciência política. Bjørnskov conclui que, embora as medidas pareçam positivas no prazo considerado pelos outros estudos, no período de três a quatro semanas após a implementação — que reflete melhor o tempo de ação do vírus — o seu efeito se torna muito pequeno ou insignificante sobre os óbitos.

“Os lockdowns na maioria dos países ocidentais lançaram o mundo na recessão mais severa desde a Segunda Guerra Mundial”, comenta o cientista. “Eles também causaram uma erosão de direitos fundamentais e da separação dos poderes em grande parte do mundo enquanto regimes democráticos e autocráticos fizeram mau uso de seus poderes de emergência e ignoraram limites constitucionais às políticas públicas. (...) As descobertas deste artigo sugerem que as políticas mais severas de lockdown não foram associadas à menor mortalidade. Em outras palavras, os lockdowns não funcionaram como o pretendido”, conclui. 

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