Os defensores da saída do Reino Unido da União Europeia já cantavam vitória no início da semana, comemorando os resultados do principal índice da Bolsa de Londres, o FTSE 100, que voltou aos níveis pré-Brexit. Mas, desde segunda-feira da semana passada, os sinais de que a separação entre Londres e Bruxelas poderia levar a economia britânica a uma espiral negativa se multiplicaram.
- Brexit, a juventude, a velharia e o Brasil
- A cosmopolita Londres e o Brexit
- Roger Scruton explica o “Brexit”
- Vai aplicar na Bolsa? Agora é preciso levar Brexit em conta
- “Brexit” põe em xeque futuro econômico e político do Reino Unido
- Brexit: veja como a União Europeia vai lidar com a saída do Reino Unido do bloco
- Um “Brexit” provinciano
Em uma semana, seis companhias de gestão de ativos congelaram as movimentações de seus clientes em fundos imobiliários para impedir uma fuga em massa de recursos. As barreiras foram adotadas por Standard Life, Aviva Investors, M & G, Henderson, Columbia Threadneedle Investments e Canadian Life.
Na mesma semana, o Banco da Inglaterra, a autoridade monetária britânica, publicou um relatório no qual afirmou que os efeitos práticos do referendo já começaram a aparecer. “Há evidência de que algum risco começou a se cristalizar. O atual cenário da estabilidade financeira do Reino Unido é desafiador”, reconheceram os técnicos do banco.
A entidade planeja enfrentar a ameaça de recessão flexibilizando as normas de controle de capitais em bancos britânicos, depois de já ter indicado estar pronta a injetar £ 150 bilhões no mercado para compensar os efeitos do Brexit, se necessário. De sua parte, o secretário do Tesouro, George Osborne, anunciou que pretende reduzir de 20% a 15% o Imposto sobre Sociedades (IS), de forma a poder concorrer melhor com o mercado da Irlanda - país que faz parte da zona do euro e oferece um imposto de 12% para empresas que se instalam no país. A título de comparação, a França também reduzirá o IS, mas de 33% para 28%.
Queda no PIB
Nem a corrida ao imposto mais baixo, que ameaça transformar o Reino Unido em uma espécie de superparaíso fiscal, tem evitado o impacto negativo. Desde o Brexit, a libra esterlina, a moeda britânica, enfrenta sua menor cotação frente ao dólar em cerca de 30 anos, e a desvalorização também acontece em relação ao euro. Com a flutuação negativa, a tendência é de que o Reino Unido perca de novo o título de quinta maior economia do mundo para a França, que havia sido ultrapassada em 2015. Se a cotação média do ano girar em torno da atual, hoje em 1,17 euro por libra, o PIB britânico será de 2,17 trilhões de euros, atrás dos 2,18 trilhões do PIB francês.
Fora o lado folclórico da competição, o balanço das perdas começa a preocupar. “Não há dúvidas de que haverá um impacto negativo para a economia europeia no curto prazo. Mas o consenso é de alguns décimos de PIB, enquanto no Reino Unido as perdas serão maiores”, diz Nicolas Veron, analista do Instituto Bruegel.
Para o banco francês BNP Paribas, a previsão de crescimento da economia britânica já precisa ser revisada para baixo. “O Brexit deverá amputar o crescimento britânico em 2016 e mais sensivelmente ainda em 2017, em especial por causa do aumento da incerteza, de sua incidência negativa nas trocas comerciais e do endurecimento das condições monetárias e financeiras”, entende Laurent Nahmias, economista sênior da Direção de Pesquisas Econômicas do banco. Para ele, o sistema financeiro será o mais atingido.
Clima e super-ricos: vitória de Trump seria revés para pautas internacionais de Lula
Nos EUA, parlamentares de direita tentam estreitar laços com Trump
Governo Lula acompanha com atenção a eleição nos EUA; ouça o podcast
Pressionado a cortar gastos, Lula se vê entre desagradar aliados e acalmar mercado